Transfusões de Sangue e as Testemunhas de Jeová

8 de maio de 2016

As Testemunhas de Jeová podem submeter-se à maioria dos tratamentos médicos, mas não podem receber transfusões de sangue em nenhuma hipótese. Elas consideram o fato de absterem-se de sangue como uma das áreas que as identificam como a única religião verdadeira.1 Mas quase ninguém sabe que, ao longo de sua história, a Organização Torre de Vigia deu uma volta de praticamente 360º na sua posição sobre o sangue.

Essa doutrina é:

  • Biblicamente inexata – A maioria das religiões Cristãs reconhece que a Bíblia não proíbe que Cristãos recebam transfusões de sangue.
  • Inconsistente – A Organização afirma que o padrão de Deus exige que o sangue não seja armazenado, mas permite que uma Testemunha de Jeová utilize frações de sangue derivadas de sangue armazenado.
  • Dois pesos, duas medidas – As Testemunhas de Jeová usam quantidades significativas de produtos médicos extraídos do sangue, mas são proibidas de doar sangue.

Assim como a Organização voltou atrás na sua decisão de proibir transplante de órgãos na década de 1980, ela também fez mudanças significativas quanto à aceitação de sangue nos últimos anos. Toda Testemunha de Jeová deveria considerar seriamente as consequências de a Organização fazer essas alterações doutrinais que envolvem a vida ou a morte das pessoas antes de decidir recusar sangue, quando vidas estão em perigo.

A informação contida a seguir apresenta a posição da Organização sobre o sangue desde Março de 2015. Considerando as mudanças que ocorreram por volta da última década (ano de escrita deste artigo: 2016), e as constantes disputas legais envolvendo a Torre de Vigia, provavelmente haverá mais mudanças que relaxam as regras nos próximos anos.

Este artigo examina a história da doutrina sobre o sangue e compara a posição atual com requisitos bíblicos relacionados ao sangue, incluindo:

Resumo dos problemas relacionados aos princípios bíblicos da doutrina das Testemunhas de Jeová sobre o sangue:

1. O princípio Rabínico Pikuach Nefesh (mencionado por Jesus em Mateus 12:11) estabelece que a Lei seria colocada de lado se resultasse na perda da vida;

(Mateus 12:11) Ele lhes disse: “Se um de vocês tiver uma ovelha, e essa ovelha cair num buraco no sábado, será que não vai agarrá-la e tirá-la dali?

2. A Bíblia proíbe comer o sangue de animais que foram mortos para servir de alimento, não transfusões de sangue em que o doador não morre.

3. Paulo mostrou que as proibições de Atos 15 só se aplicavam quando alguém pudesse tropeçar por algum daqueles assuntos (Veja 1 Coríntios 8)

A tabela abaixo mostra o histórico de inconsistências da doutrina sobre o sangue:

Antes de 1945 De 1945 a 1982 De 1982 a 2000 Depois do ano 2000
Sangue integral Permitido Proibido Proibido Proibido
Frações principais Permitido Proibido Proibido Proibido
Frações menores Permitido Proibido Algumas aceitas Permitido

Será que alterações doutrinais tão contraditórias podem ser resultado da orientação de Jeová?

Além dos problemas relacionados aos princípios bíblicos mencionados acima, também existem problemas relacionados à política adotada pelas Testemunhas de Jeová:

*** km 3/07 p. 3  ***
As Testemunhas de Jeová não aceitam transfusões de sangue total ou de seus quatro componentes primários — a saber, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma. Elas também não doam sangue nem o armazenam para seu próprio uso numa possível transfusão.

*** w00 15/6 p. 31 ***
Fora isso, quando a questão envolve frações de quaisquer componentes primários, cada cristão deve conscienciosamente decidir o que fazer.

Resumo dos problemas da política adotada sobre o sangue:

  • Se é errado doar sangue, seria correto aceitar frações do sangue doado por outra pessoa?
  • Se o sangue deve ser derramado no chão, de onde vêm as frações de sangue que eles aceitam?
  • Se abster-se de sangue inclui não aceitar frações primárias, porque a fração da fração é permitida?
  • Se as frações de sangue sempre foram aceitas, quem se responsabiliza pelas mortes das Testemunhas de Jeová que recusaram frações no passado porque a Organização proibia?

Pikuach Nefesh – A vida vem antes da Lei

Neste artigo, mostraremos como a Bíblia diz que respeito pela vida é importante para Deus.

Vamos começar pelas 7 Leis de Noé:

*** bq p. 8 par. 15 ***
Com efeito, judeus posteriores compuseram, da primeira parte de Gênesis, sete “leis básicas” para a humanidade, e esta ordem dada a Noé e seus filhos sobre o sangue era uma delas. Sim, apesar de a maioria das nações não a seguirem, tratava-se realmente de uma lei para toda a humanidade. — Atos 14:16; 17:30, 31.

O motivo de a Lei de Moisés e a Lei Mosaica mandar sangrar os animais era por respeito à vida que havia sido tirada. Jesus derramou seu sangue ao morrer, sendo o maior presente divino, dado para resgatar a vida eterna da humanidade.

De forma contraditória a esse princípio, a Organização Torre de Vigia admite que suas regras contra o sangue fez com que algumas Testemunhas de Jeová morressem, e até mostraram imagens de 26 crianças Testemunhas de Jeová que morreram por recusar transfusões de sangue.2

*** g94 22/5 p. 2 ***
No passado, milhares de jovens morreram porque colocaram Deus em primeiro lugar. Ainda há jovens assim, só que hoje o drama acontece em hospitais e tribunais, tendo como questão as transfusões de sangue.

As publicações das Testemunhas de Jeová afirmam que é errado tentar salvar a vida por meio de transfusões de sangue, visto que isso coloca em risco a vida eterna:

*** Anuário yb76 p. 224 ***
Como testemunhas cristãs de Jeová, os pais dela, Darrell e Rhoda Labrenz, consideravam corretamente a transfusão de sangue uma violação da lei de Deus e, assim, puseram-se a ela. Estavam preocupados com o bem-estar eterno de seu bebê, pois a vida eterna é a perspectiva apenas dos que aderem às leis de Deus.

*** w70 15/10 p. 633 ***
Mas, suponhamos que a esposa ou o filho da pessoa esteja à morte. Dar sangue, não importa quem a pessoa amada seja, ainda constituiria violação da lei de Deus. Só porque alguém está à morte, não concede liberdade para se violarem as ordens de Deus. Quando se está à morte, não é a ocasião para se perverter ou violar a lei de Deus, mas é a ocasião de se chegar tão perto como possível a Deus, por permanecer fiel. A recompensa pela fidelidade é a vida eterna. Quão tolo seria arriscar-se a perder a perspectiva de vida eterna pela promessa muito incerta duma cura por meio duma transfusão de sangue!

*** bh cap. 13 p. 130 par. 14-15 ***
Que dizer se um cristão se ferir gravemente ou precisar de uma grande cirurgia? Suponhamos que os médicos digam que ele morrerá se não receber uma transfusão de sangue. É óbvio que o cristão não deseja morrer. […] 15 Será que o cristão desobedeceria à lei de Deus apenas para viver um pouco mais neste sistema? Jesus disse: “Todo aquele que quiser salvar a sua alma [ou vida], perdê-la-á; mas todo aquele que perder a sua alma por minha causa, achá-la-á.” (Mateus 16:25) Não queremos morrer. Mas, se tentássemos salvar a nossa vida atual desobedecendo à lei de Deus, correríamos o risco de perder a vida eterna.

Será que as afirmações acima, feitas nas publicações, indicam que as regras da organização sobre o sangue mostram respeito pela vida?

(Mateus 12:7) No entanto, se vocês tivessem entendido o que significa: ‘Quero misericórdia, e não sacrifício’, não teriam condenado os inocentes.

Proibir transfusões de sangue é um exemplo de mentes ocidentais legalistas criando doutrinas, sem entender o espírito por trás dos antigos textos bíblicos orientais. Transfusões de sangue não equivalem a comer sangue. Primeiro, transfusões não envolvem a digestão do sangue. Segundo, transfusões não resultam na morte do doador. As ordem bíblicas sobre sangue, tais como aquelas dadas a Noé em Gênesis 9:4, diziam que o sangue devia ser derramado no caso dos animais abatidos. A lei do sangue foi dada para mostrar respeito pela vida durante o ritual de matar para comer.

Vale ressaltar que os Judeus comuns aceitam transfusões de sangue. Já os Judeus Ortodoxos mais rigorosos lavam a carna na água, depois jogam sal, e daí drenam a carne para retirar todo o sangue. Mas nenhum grupo Judeu proíbe transfusões de sangue. Similarmente, Muçulmanos (que não podem beber sangue) aceitam transfusões de sangue. Isso ocorre porque as restrições alimentares dos Judeus (kosher) são deixadas de lado quando se trata de uso médico para salvar vidas. Manter a vida é mais importante que obedecer a Lei Mosaica: um princípio chamado de pikuach nefesh.

Jesus mostrou que os Cristãos também devem seguir esse princípio, quando curou e colheu no Sábado. Ele usou Davi como exemplo, para mostrar que atos de piedade, tais como salvar uma vida, são mais importantes do que aderência estrita a regras. As Testemunhas de Jeová admitem que piedade era um dos aspectos mais importantes da Lei:

*** w15 15/2 p.13 par.13 ***
Por exemplo, considere o relato de Marcos 5:25-34. (Leia.) Uma mulher que sofria de um fluxo de sangue passou pelo meio de uma multidão, tocou na roupa de Jesus e foi curada. Ela era impura do ponto de vista da Lei; então, não podia tocar em ninguém. (Lev. 15:25-27) Mas Jesus não a repreendeu por ter tocado em sua roupa. Ele discernia que entre “os assuntos mais importantes da Lei” estavam “a misericórdia e a fidelidade”. (Mat. 23:23) Ele disse de modo bondoso: “Filha, a tua fé te fez ficar boa. Vai em paz e fica curada da tua doença penosa.” É muito bom saber que o discernimento de Jesus o motivou a agir com tanta bondade, não acha?

Mesmo admitindo isso, a Organização das Testemunhas de Jeová não tem misericórdia dos seus membros quando suas vidas correm risco por causa de transfusões de sangue. Veja outros exemplos bíblicos onde a misericórdia foi mais importante que a obediência estrita à Lei:

(Levítico 19:16) “Não faça nada que ponha a vida do seu vizinho em risco” (New International Version, tradução livre).

(Mateus 12:11) Ele lhes disse: “Se um de vocês tiver uma ovelha, e essa ovelha cair num buraco no sábado, será que não vai agarrá-la e tirá-la dali?

(Marcos 3:4-5) A seguir, ele lhes perguntou: “É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matar?” Mas eles continuaram calados. Depois de olhar para os que estavam à sua volta, com indignação e profundamente triste com a insensibilidade do coração deles, ele disse ao homem: “Estenda a mão.” Ele a estendeu, e a mão foi restabelecida. – Veja também Lucas 6:7-10.

(Mateus 12:1-4) Naquela ocasião, Jesus passou pelos campos de cereais no sábado. Seus discípulos ficaram com fome e começaram a arrancar espigas e a comer. Vendo isso, os fariseus lhe disseram: “Veja! Seus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer no sábado.” Ele lhes disse: “Vocês não leram o que Davi fez quando ele e seus homens ficaram com fome? Como ele entrou na casa de Deus, e eles comeram os pães da apresentação, algo que não era permitido comer, nem a ele nem aos que estavam com ele, mas apenas aos sacerdotes? – Veja também Marcos 2:23-26 

(Lucas 14:3-6) Jesus perguntou aos peritos na Lei e aos fariseus: “É permitido ou não curar no sábado?” Mas eles ficaram calados. Assim, ele tocou no homem, o curou e o mandou embora. Então ele lhes disse: “Quem de vocês não puxará imediatamente para fora o seu filho ou o seu touro se ele cair num poço no dia de sábado?” E eles ficaram sem resposta.

(Lucas 10:30-33) Jesus disse: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, o espancaram e foram embora, deixando-o quase mortoPor coincidência, um sacerdote descia por aquela estrada, mas, quando o viu, passou pelo lado oposto. … Mas certo samaritano, viajando pela estrada, o encontrou e, ao vê-lo, teve pena.

(Nota: de acordo com a Lei, o sacerdote correria um risco enorme de tornar-se cerimonialmente impuro ao tocar o corpo daquele homem)

Nas situações acima, Jesus invocou o princípio rabínico de pikuach nefesh: a obrigação de salvar a vida é mais importante que a Lei Judaica.

*** Escola Sabatina Online, Lição 5 (veja o site) ***
I. Pikuach Nefesh (Recapitule com a classe Lucas 10:31-33.) Levítico 19:16 diz: “Não faça nada que ponha a vida do seu vizinho em risco” (Lv 19:16, New International Version, tradução livre). O sentido literal é: “Não atentarás contra a vida do teu próximo.” É desse verso que vem o princípio judaicopikuach nefesh, ou seja, a obrigação de ajudar qualquer vida ameaçada. Pikuach nefesh vai além e nos ensina que, quando duas regras se conflitam, a obrigação de salvar a vida humana prevalece sobre todas as outras obrigações. Assim, por exemplo, seria considerado apropriado realizar uma cirurgia de emergência no sábado a fim de salvar a vida de alguém; […] Atualmente estudiosos judeus estendem o princípio depikuach nefesh para coisas como doar órgãos a fim de salvar vidas. Essa era a base do ensinamento de Jesus, de que é lícito fazer o bem no dia de sábado. Jesus mostrou aos líderes religiosos que eles aplicavam alegremente esse princípio quando um boi caía em um poço no dia de sábado (Lc 14:5), mas relutavam em praticar o pikuach nefesh quando as necessidades da vida humana estavam em jogo. […] Portanto, na história do bom samaritano […] o sacerdote correria um risco enorme de se tornar cerimonialmente impuro ao tocar o corpo daquele homem. […] foi um dos samaritanos (os odiados e desprezados primos distantes dos judeus) que demonstrou o verdadeiro pikuach nefesh. (FONTE: http://www.escolasabatinaonline.com.br/resumo-da-licao-5-2/ )

Veja também outro artigo, em inglês ==> Pikuach Nefesh, Ariel Scheib (Apr 22 2007) (jewishvirtuallibrary.org)

Visto que o respeito pela vida é o assunto mais importante para o estudante da Bíblia, o sangue deferia ser transfundido nas situações de risco de vida. Isso levanta uma questão: “Será que transfusões de sangue podem, às vezes, ser necessárias para salvar vidas?”

Transfusões de sangue são essenciais, às vezes, para salvar a vida. Talvez possamos concordar em não tomar sangue em algumas situações médicas, da mesma forma que concordamos em não tomar antibióticos para toda doença. Assim como os antibióticos têm sido exageradamente receitados, as transfusões também têm sido. No entanto, antibióticos são essenciais em algumas situações de risco de vida, assim como o sangue. Expansores de volume não derivados do sangue não são capazes de substituir as células vermelhas. Quando a contagem de células vermelhas cai muito, seus órgãos sufocam e morrem por falta de oxigênio. Nessas situações, a sobrevivência depende de uma transfusão de sangue.

A Organização das Testemunhas de Jeová admitiu, para o Parlamento Australiano, que transfusões de sangue são, às vezes, essenciais para salvar vidas. Na Comissão de Hansard, o representante do departamento legal da Filial Australiana da Torre deVigia, Vin Toole, fez a seguinte admissão (em inglês, tradução minha):

“O que dissemos é que pode haver circunstâncias em que isso torna-se uma questão absoluta de vida ou morte” (aph.gov.au, página 67, acessado em 06 de Outubro de 2016)

Quando as Testemunhas de Jeová publicam artigos sobre cirurgias feitas sem sangue, eles tentam ignorar o fato de que há circunstâncias em que o sangue é absolutamente necessário para salvar a vida. Nessas situações, as Testemunhas de Jeová deveriam ter a liberdade de escolher o tratamento mais apropriado para si mesmas. O artigo publicado por Kerry Louderback-Wood, entitulado (em inglês, tradução minha) “Testemunhas de Jeová, Transfusões de Sangue, e o Dano da Informação Falsa“, apresenta a importante descoperta de que a Organização tem sido pouco honesta ao apresentar informações sobre transfusões de sangue:

“A principal fonte sobre a política do sangue da Sociedade, “Como Pode o Sangue Salvar Sua Vida?” (panfleto), ensina às Testemunhas de Jeová e aos interessados sobre a proibição do sangue na religião. Além de dar a interpretação religiosa da Sociedade, o panfleto baseia-se em citações de historiadores, cientistas e médicos para apoiar sua posição sem-sangue. Este artigo primeiro discutirá as informações falsas desses escritores seculares e a disponibilidade de processos para pessoas prejudicadas quando uma organização religiosa apresenta falsos fatos seculares.” (Jehovah’s Witnesses, Blood Transfusions, and the Tort of Misrepresentation by Kerry Louderback-Wood)

O autor do artigo acima, Louderback-Wood, fornece exemplos das publicações das Testemunhas de Jeová em que informações sobre os perigos de aceitar ou recursar sangue são convenientemente filtradas, chegando ao ponto de fazerem citações enganosas para levar os seguidores da religião a ter um entendimento errado sobre a necessidade de receber sangue. Uma coisa é exigir que o seguidor obedeça estritamente às interpretações doutrinárias da religião. Outra coisa bem diferente é fornecer informações médicas de forma desonesta. Os seguidores têm o direito de serem bem informados para poderem tomar uma decisão.

Posição atual da Organização

Os Apóstolos não tinham manual de fisiologia. Não sabiam a diferença entre os componentes do sangue. Sangue significava apenas isso: sangue. Não havia separação do sangue em frações, permitindo usar um componente do sangue e recusar outro. A lei bíblica sobre o sangue não tinha nada a ver com discutir detalhes minuciosos, mas relacionava-se ao respeito pela vida.

A posição atual da Organização, que permite frações do sangue, é sem base bíblia e errada. Com o objetivo de explicar o que são os componentes primários do sangue, o artigo de A Sentinela de 2004 contém a seguinte citação:

*** w04 15/6 p. 22 par. 11 ***
O compêndio Emergency Care (Atendimento de Emergência), de 2001, sob “Composição do Sangue”, declarou: “O sangue é composto de vários elementos: plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.” Portanto, em harmonia com os fatos da medicina, as Testemunhas recusam a transfusão de sangue total ou de qualquer dos seus quatro componentes primários.

O livro usado na citação feita pela revista não é um livro médico, e traz apenas uma simplificação dos componentes primários do sangue. Conforme os livros médicos, tais como Bancos de Sangue Modernos e Práticas de Transfusão (tradução minha do inglês: Modern Blood Banking and Transfusion Practices), escrito por Denise M. Harmening, Ph.D., considera-se que os componentes primários do sangue incluem (em inglês, tradução minha):

“Glóbulos vermelhos, alíquotas de glóbulos vermelhos, glóbulos vermelhos reduzidos de leucócitos, glóbulos vermelhos desglicerolizados-congelados, concentrado de plaquetas, plasma de doador individual, fator anti-hemofílico criopreciptado, granulócitos concentrados, concentrado de fator VIII, fator VIII de porcino, concentrado de fator IX (Complexo Protrombina), globulina de soro imunológico, albumina de soro normal, fracção de proteína do plasma, imunoglobulina de Rho(D), concentrado de antitrombina III”. (Modern Blood Banking and Transfusion Practices, por Denise M. Harmening)

Desde o ano 2000, as Testemunhas de Jeová podem aceitar muitas dessas frações do sangue. Por exemplo, embora elas rejeitem os glóbulos brancos, que constituam menos de 1% do volume do sangue, elas aceitam proteínas do soro, que constituem 6%. A hemoglobina é aceita e compõe mais de 15% do volume do sangue. Surpreendentemente, depois de quebrar em frações, as Testemunhas de Jeová podem aceitar 100% do sangue, conforme mostrado na tabela abaixo:

Recusar sangue integral Recusar sangue fracionado nos componentes primários Aceitar sangue quando componentes primários continuam sendo fracionados
Sangue Integral Componentes Primários do Sangue Frações dos Componentes Primários do Sangue % do sangue integral Mencionado como aceito no KM de Março/2007
Sangue 100,00% Plasma 55,00% Água 50,5 %
Albumina  2,2 %
Imunoglobulina  1,7 %
Fatores coagulantes  0,3 %
Vitaminas, Hormônios e outros  0,8 %
Glóbulos Vermelhos 41,00% Hemoglobina  14,4 %
Hemina  0,8 %
Outros  25,8 %
Glóbulos Brancos 3,00% Interferons  0,0 %
Outros  3,0 %
Plaquetas 0,50% Frações de plaquetas  0,5 %
Não 100,00% Não 100,00% Sim 100,00%  

As Testemunhas de Jeová tentam dar a impressão de que tem alguma lógica na permissão para aceitar frações. Elas “raciocinam” que o sangue consiste de 4 “componentes” principais. O uso desses componentes é errado, mas quando tais componentes são reduzidos a “frações”, seu uso fica aceitável. (w04 15/6 p.21 par. 10-12)

Essa diferença que a revista faz entre frações e componentes é uma tentativa de fazer parecer que há alguma diferença, e que usar um “componente” é uma violação maior do que usar uma “fração”. Esse raciocínio é muito falho, porque um componente é uma fração; são sinônimos! Muitos textos médicos referem-se aos glóbulos vermelhos e brancos como “frações”. Similarmente, textos médicos falam da quebra do plasma em “componentes”.

A seguinte carta de 2007, enviada a uma Testemunha de Jeová que pediu explicações sobre essa posição, mostra como a Organização das Testemunhas de Jeová usa de raciocínio enganoso para justificar porque as frações são agora aceitas (em inglês, tradução minha, grifo meu):

Congregação Cristã das Testemunhas de Jeová

ECA:ECN 21 de Fevereiro de 2007

Quanto aos usos médicos do sangue, um exame cuidadoso do que foi publicado pelas Testemunhas de Jeová revelará que nossa posição consistente tem sido a de que o sangue, ou quaisquer de seus quatro componentes primários – plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas – não deve ser usado. É assim que os componentes do sangue não fracionado se depositam naturalmente. Em seu estado não fracionado, cada componente primário separado, independentemente de sua porcentagem respectiva no sangue integral, ainda pode representar, basicamente, o que o sangue integral simboliza: a vida da criatura.

Esta carta tenta fazer parecer que a posição das Testemunhas de Jeová tem sido consistente ao longo do tempo, o que claramente não ocorre. Além disso, o sangue não se deposita naturalmente na forma daqueles 4 componentes primários. Isso só ocorre mediante centrifugação com aditivos.

A classificação usada pelas Testemunhas de Jeová, do sangue composto das 4 frações primárias (plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) é muito comum. E é correta, embora seja uma simplificação básica do que acontece quando o sangue é processado numa centrífuga. O resultado é:

  • plasma
  • buffy coat glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas
  • glóbulos vermelhos (eritrócitos).

Esta classificação é uma de muitas usadas para descrever o sangue. O sangue é descrito, alternativamente, como sendo composto dos seguintes 4 componentes primários: plasma, glóbulos de gordura, químicos e gás (e os glóbulos vermelhos e brancos são considerados parte do plasma). (mcghealth.org acessado em 24 de Maio de 2008, em inglês, tradução minha)

Alternativamente, “o sangue consiste de material celular (99% de glóbulos vermelhos, com glóbulos brancos e plaquetas compondo o resto), água, aminoácidos, proteínas, carboidratos, lipídios, hormônios, vitaminas, eletrólitos, gases dissolvidos, e os resíduos celulares”. (chemistry.about.com acessado em 24 de Maio de 2008, em inglês, tradução minha)

Simplificadamente, o plasma sanguíneo é um líquido composto de água, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas, proteínas, glucose, íons minerais, hormônios, dióxido de carbono, imunoglobulinas, fatores de crescimento, albumina, além de uma série de outras substâncias.

As Testemunhas de Jeová não podem usar glóbulos brancos (leucócitos), mas isto é sem lógica. Leucócitos deveriam ser permitidos, com base na mesma linha de raciocínio que permite outras frações.

Em vez de ser um componente primário, os leucócitos constituem apenas 1% do volume sanguíneo. Glóbulos brancos são classificados em muitos tipos diferentes, incluindo neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos. Cada tipo tem uma forma e função diferentes, e constitui apenas uma fração de 1% do sangue.

As mães naturalmente transfundem glóbulos brancos para seus filhos quando está amamentando. Esses leucócitos são criados na medula óssea, e são transferidos para a glândula mamária pelos vasos linfáticos. O colostro, o leite materno inicial que uma mãe fornece ao bebê recém-nascido, contém centenas de milhares de góbulos brancos do sangue por mililitro, que são importantes na construção do sistema imunológico da criança.

Veja www.nature.com e wikipedia.org (em inglês, acessados dia 24 de Maio de 2014)

A argumentação das Testemunhas de Jeová, de que o sangue é composto por quatro componentes, é enganosa, visto que o motivo de falarem isso é para fazer parecer que quebrar um “componente” em uma “fração” torna-se aceitável. Na realidade, muitas das “frações” permitidas ficam suspensas no plasma de maneira que os glóbulos vermelhos (considerados componentes) ficam suspensos no plasma.

Por exemplo, a classificação hierárquica do sangue, apresentada pelas Testemunhas de Jeová, destina-se a fazer parecer que as plaquetas são mais ofensivas a Deus do que a Imunoglobulina. No entanto, na realidade, estes 2 itens são “componentes” em suspensão no plasma. Além disso, a imunoglobulina constitui 1,7% do sangue e é “aceitável”. Já as plaquetas compõem apenas 0,5% do volume de sangue e são proibidas.

Os escritores bíblicos desconheciam essas definições. O sangue não é naturalmente separado em centrífugas. O sangue era simplesmente sangue. Para fazer parecer que tem lógica, as Testemunhas de Jeová deveriam ou permitir o uso de sangue, ou proibir – em qualquer forma. Se eles querem proibir o sangue total e, ao mesmo tempo, permitir frações do sangue (o que é algo meio sem lógica), então, todas as frações deveriam ser consideradas aceitáveis, incluindo glóbulos vermelhos e brancos.

Proibir 4 componentes, considerados principais, é uma medida arbitrária. Alguns livros de medicina listam apenas 2 componentes principais: glóbulos vermelhos e plasma. Se as Testemunhas de Jeová tivessem escolhido essa definição de 2 componentes principais, poderiam permitir os glóbulos brancos e as plaquetas. Outras fontes listam 16 componentes principais – se escolhessem esta definição, não permitiriam várias frações que hoje são permitidas. Outras fontes dividem o sangue baseado na composição química, e essa definição mudaria totalmente, de novo, o que é permitido. A organização tem usado uma definição arbitrária, resultando em um resultado arbitrário. Se quisessem ter uma doutrina coerente, teriam de permitir tudo ou nada.

O artigo “Sangue Falso, Controvérsia Real”, de Randy Dotinga, fala sobre os produtos que são feitos a partir das frações agora aceitas pelas Testemunhas de Jeová. As TJs aceitam transfusão desses produtos (em inglês, tradução minha):

PolyHeme e Hemopure, fabricados pela Biopure, com sede em Massachusetts, estão em fase final de pesquisa. O Hemopure, usado em cirurgias, é feito de sangue de vaca, enquanto o PolyHeme é derivado de hemoglobina, uma proteína encontrada nos glóbulos vermelhos do sangue Também existe um outro benefício, um que recebeu pouca atenção. Embora a igreja das Testemunhas de Jeová desencoraje transfusões devido à proibição bíblica contra o consumo de sangue, ela permitiu que seus 1 milhão de membros americanos decidam aceitar produtos que não são derivados dos componentes principais do sangue. (wired.com acessado em 6 de Abril de 2004, em inglês, tradução minha)

O artigo acima mostra que as Testemunhas de Jeová são capazes de transfundir produtos derivados de sangue tanto humano quanto animal. O artigo de Randy Dotinga continuou explicando que, contrário ao que se pensa, as Testemunhas de Jeová não foram o fator que motivou a criação dessas alternativas ao sangue. Tais alternativas têm sido desenvolvidas desde a virada do século 20 (anos 19xx), muito antes de as Testemunhas de Jeová proibirem o sangue. A razão desses produtos terem sido criadas é que geralmente o estoque é baixo nos bancos de sangue, ou não é compatível com todas as pessoas, e não pode ser armazenado por longos períodos (sangue doado expira após 42 dias) e transmite doenças. Muito esforço tem sido empenhado para desenvolver verdadeiros substitutos ao sangue, para resolver esses problemas.

A questão do sangue supostamente centra-se na santidade do sangue. A Sentinela de 15 de setembro de 1961, p.559 (em inglês, tradução minha), afirmou que “seja integral ou fracionado, próprio ou alheio, transfundido ou injetado, é errado“. O sangue não deveria ser comido ou transfundido, mas derramado no chão por respeito a Deus e ao dom da vida. Sendo assim, como é que as Testemunhas de Jeová agora consideram o uso de frações de sangue e substitutos do sangue, como o Hemopure, como aceitável? Armazenar grande quantidade de sangue e processá-lo em frações para uso posterior mostra menos respeito à santidade do sangue do que uma transfusão de sangue.

Vamos considerar a lógica desse conceito mais atual, de que frações menores são aceitáveis, mas os componentes principais não são. Em Gênesis 3:3, Deus proibiu Eva de comer do fruto da árvore do conhecimento:

(Gênesis 3:3) Mas, sobre o fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Não comam dele, não, nem toquem nele; do contrário, vocês morrerão.’”

Será que Jeová aceitaria se Eva tivesse apenas mordido um pequeno pedacinho da casca, ou tivesse fracionado o fruto e extraído suco, ou tivesse extraído somente a Vitamina C de alguma maneira?

Atos 15:29 também diz “abster-se de coisas estranguladas”. Usando a mesma lógica de que uma fração do sangue é aceitável, uma fração do animal estrangulado também seria aceitável, inclusive subprodutos tais como o sebo ou a proteína da carne. Claramente, isso seria uma forma de contornar a proibição do texto, e dificilmente poderíamos considerar tal prática como “abster-se de coisas estranguladas”.

O Cartão do Sangue de 2008 requer que as Testemunhas de Jeová indiquem quais frações e procedimentos médicos eles estão dispostos a aceitar ou não. Essa lista inclui diálise, “patch” do sangue peridural, plasmaferese, a rotulagem ou marcação, e gel de plaquetas. Você acha que Lucas, quando escreveu Atos 15, imaginou suas palavras sendo legisladas nesse nível de detalhe?

A posição das Testemunhas de Jeová na questão do sangue, desde o ano 2000, é equivalente a alterar o texto de Atos 15:29 para o seguinte:

(Atos 15:29) “que persistam em se abster de coisas sacrificadas a ídolos, de sangue [ou seja, do sangue integral e dos 4 componentes principais, quais sejam: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma. No entanto, alguém pode aceitar das outras frações ou dos componentes anteriores, contanto que tenham sido mais fracionados, e a menos que sua consciência proíba estes também], do que foi estrangulado e de imoralidade sexual. Se vocês se guardarem cuidadosamente dessas coisas, tudo irá bem com vocês. Saudações!”

Justificativa das Testemunhas de Jeová sobre sua posição

As Testemunhas de Jeová são muito criticadas por aplicar a regra do sangue às transfusões. A bíblia nunca menciona transfusões, mas a organização raciocina que, se o sangue não pode ser comido, então podemos concluir que seria desrespeitoso transfundi-lo também. Como mostraremos, grande parte desse raciocínio é inexato, e o resultado é uma posição inconsistente quanto às maneiras que o sangue pode ou não ser usado.

O raciocínio inicialmente dado para apoiar a recusa das transfusões de sangue era que o sangue era um nutriente da mesma forma que a comida:

*** A Sentinela de 15 de Setembro de 1958, p.575 (em inglês, tradução minha) ***
Sempre que a proibição do sangue é mencionada na Bíblia, ela está ligada ao seu consumo como comida, e, portanto, preocupamo-nos com sua proibição como um nutriente.

O sangue não é um nutriente. Transfusões de sangue não nutrem o corpo, e esta não é a razão de um paciente receber uma transfusão. O sangue é usado como expansor de volume e para transportar oxigênio. A organização entende isso agora, e parou de usar esse raciocínio errado. No entanto, em vez de parar de proibir, ela começou a usar uma nova linha de raciocínio. Para conseguir fazer uma conexão entre “comer sangue” e “fazer transfusão”, as Testemunhas de Jeová agora usam a seguinte ilustração:

*** Raciocínios, rs p. 345 par. 2 ***
A título de comparação, considere o caso de um homem a quem o médico dissesse que precisa abster-se de álcool. Estaria ele obedecendo à ordem, se deixasse de beber álcool, mas fizesse que este lhe fosse injetado diretamente nas veias?

Os médicos acham esse argumento ilógico por 2 razões. Embora um alcoólatras seja aconselhado a não beber álcool, tal conselho não impediria um médico de usar um medicamento à base de álcool para limpar um ferimento desse alcoólatra. Além disso, quando o sangue é injetado diretamente nas veias numa transfusão, ele circula e funciona como sangue, enquanto que, oralmente, o sangue ingerido não entra no sistema circulatório em forma de sangue, visto que a digestão quebraria o sangue em componentes mais simples. Por outro lado, quer uma pessoa beba álcool, quer injete nas veias, ele entra no fluxo sanguíneo em forma de álcool, visto que o álcool não é quebrado durante a digestão no estômago.

Transfusões de sangue são, na verdade, transplantes celulares de órgão, e transplantes de órgão são permitidos pelas Testemunhas de Jeová. Para mostrar como a ilustração acima é irrelevante, vamos colocá-la em outras palavras:

Considere o caso de um homem a quem o médico dissesse que precisa abster-se de carne. Estaria ele obedecendo à ordem, se deixasse de comer carne, mas aceitasse um transplante de rins?” (Fonte www.ajwrb.org/history/index.shtml, em inglês, tradução minha)

Outra linha de raciocínio usada pelas Testemunhas de Jeová contra transfusões de sangue diz que a Bíblia ordenava derramar o sangue na terra, e por isso ele não podia ser armazenado. Sendo assim, é errado usar até mesmo seu próprio sangue armazenado para uma transfusão. (w00 15/10 p.31) Embora esse raciocínio tenha algum sentido, ele destaca uma enorme inconsistência nos argumentos das Testemunhas de Jeová. Vamos entender. Com esse raciocínio as TJs são, de fato, proibidas de:

  • doar sangue
  • transfundir sangue
  • transfundir os 4 componentes primários do sangue (glóbulos vermelhos, brancos, plaquetas e plasma).

No entanto, as Testemunhas de Jeová pode tirar seu sangue e armazená-lo para fazer exames de sangue. Vacinas cultivadas em sangue armazenado também são permitidas. Muitos tipos de frações sanguíneas, produzidas a partir de sangue armazenado, são permitidas, e tratamentos médicos derivados de grandes quantidades de sangue armazenado são permitidos.

Para ilustrar quão inconsistente é esse posicionamento, vale a pena considerar as injeções de RhIG, que agora são permitidas para as Testemunhas de Jeová.

*** g94 8/12 p. 27 ***
A mulher cristã pode tomar a RhIG em sã consciência? … Por isso, alguns cristãos concluem que não lhes parece ser uma violação da lei bíblica tomar uma injeção que consiste de anticorpos, como a RhIG, já que o processo, em essência, é semelhante ao que acontece naturalmente.

Injeções de RhIG são usadas como tratamento alternativo para pessoas que não produzem imunoglobulina suficiente ou para tratar pessoas que não foram imunizadas contra certas infecções virais, tais como a hepatite A e sarampo. São necessários aproximadamente 3 L de sangue para se extrair gamaglobulina suficiente para uma única injeção. O sangue é extraído de um reservatório de sangue, visto que anticorpos para essas doenças provavelmente estão presentes no reservatório se amostras suficientes tiverem sido adicionadas juntas. De acordo com o livro IDF Patient/Family Handbook, p. 76 (em inglês, tradução minha):

“O sangue é coletado de 60.000 pessoas e armazenado junto. O primeiro passo para se produzir gamaglobulina é centrifugar o sangue para remover todos os glóbulos vermelhos e brancos. Daí, as gamaglobulinas são purificadas quimicamente a partir do plasma líquido, numa série de passos envolvendo tratamento com álcool. Esse processo resulta na purificação de anticorpos da classe da imunoglobulina G (IgG), mas apenas quantidades residuais de IgA e IgM permanecem na fração final.”

É difícil entender a contradição que as Testemunhas de Jeová criaram aqui. Por um lado, dizem que o sangue é sagrado e não pode ser armazenado, só derramado na terra. Até mesmo o seu próprio sangue não pode ser armazenado por apenas algumas horas e daí transfundido de volta durante a operação. Alguns componentes também não são permitidos, tais como os glóbulos brancos, que compõem menos de 1% do volume sanguíneo. Por outro lado, as Testemunhas de Jeová não vêem problema em usar medicamentos feitos a partir do armazenamento e da mistura do sangue de 60.000 pessoas. Se o sangue é tão sagrado que não pode ser armazenado para uma transfusão, então o armazenamento de sangue e a extração de frações dele também deveria ser proibido.

Existem algumas ilustrações que ajudam a ver a inconsistência de permitir frações do sangue, mas não o sangue integral. Por exemplo, se roubar e revender um carro é crime, seria aceitável desmontar o carro e vender apenas partes dele? Um outro exemplo: quando Deus disse a Adão e Eva que não comessem da Árvore do Conhecimento, será que eles poderiam cortar um pedaço e fazer geléia antes de comê-lo?

São 2 pesos, duas medidas. As Testemunhas de Jeová se utilizam de algo que a sociedade produz (frações de sangue doado por descrentes), mas são proibidos de retribuir o favor (doando seu próprio sangue). Recusam-se a doar sangue para beneficiar outros, mas beneficiam-se do sangue doado por outros.

Visto que não possuem uma linha de raciocínio consistente para explicar sua doutrina do sangue, as Testemunhas de Jeová sempre dependem do medo como fator motivador para abster-se de sangue. Muitos artigos das publicações promovem medo de sangue na maioria das Testemunhas de Jeová. Basta olhar no índice das publicações das Testemunhas de Jeová para ver a enorme preocupação com tópicos relacionados aos perigos das transfusões de sangue: sangue contaminado com AIDS, fungos, hepatite, comércio de sangue, etc. Veja algumas citações, como exemplo:

*** A Sentinela de 15/09/1961, p. 564, (em inglês, tradução minha) ***
“O sangue em qualquer pessoa é, na verdade, a própria pessoa. … Venenos devido ao estilo de vida, hábitos alimentares e de bebida”

*** A Sentinela 15/09/1961, p. 564 par. 16, (em inglês, tradução minha) ***
“Os venenos que produzem o impulso de cometer suicídio, assassinato, ou roubar, estão no sangue.” E o Dr. Américo Valério, médico Brasileiro e cirurgião por mais de quarenta anos, concorda. “Insanidade moral, perversões sexuais, repressão, complexos de inferioridade, pequenos delitos – todos frequentemente acontecem após transfusões de sangue”

*** Livro Proclamadores – jv cap. 13 p. 184 ***
Não raro, com relação a tentativas de impor transfusões a filhos menores de Testemunhas de Jeová, tem sido incitada grande hostilidade pública através da imprensa. Em alguns casos, até mesmo sem uma audiência em que os pais pudessem falar, juízes têm emitido ordens para administrar transfusões a filhos de Testemunhas. Em mais de 40 casos no Canadá, porém, as crianças que receberam transfusões foram devolvidas mortas a seus pais.

*** Brochura Como Pode o Sangue – hb p. 31 ***
Mas as Testemunhas de Jeová crêem que receber uma transfusão . . . [pode] resultar na condenação eterna.

As Testemunhas de Jeová chegam ao ponto de afirmar que sua regra contra transfusões de sangue é razoável, visto que transfusões de sangue transmitem doenças e que o corpo rejeita o sangue transfundido como se fosse um órgão estranho. Estas coisas têm sido afirmadas principalmente após a explosão da AIDS.

*** w85 1/10 p. 22 ***
A Grã-Bretanha, o sangue e a AIDS

Essa é uma posição contraditória da organização, visto que elas não contam que Testemunhas de Jeová adquiriram AIDS a partir da transfusão dos Fatores VIII e IX, considerados frações aceitáveis do sangue. Além disso, Testemunhas de Jeová podem receber transplantes de órgão, que também podem transmitir doenças e gerar rejeição.

Mudanças nas Regras

As Testemunhas de Jeová acreditam que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová é orientado pelo Espírito Santo de Deus, e se eles disseram que transfusões de sangue são erradas, então Deus pensa assim. Se examinarmos a história da doutrina do corpo governante, encontramos poucas evidências da orientação divina. Eles mudaram significativamente de ideia quanto ao que consideram aceitável, como também mantém uma posição atual muito ilógica.

Inicialmente, as Testemunhas de Jeová podiam receber vacinas, transplantes e sangue. Em vários momentos da história de 1900 anos das Testemunhas de Jeová, todos os itens acima foram completamente proibidos. Agora, todos são permitidos de uma forma ou de outra. Embora transfusões de sangue integral e frações primárias sejam proibidas, tecnicamente 100% dos componentes do sangue são permitidos quando fracionados.

Até 1927, a organização entendia que as leis bíblicas contra o sangue não valiam para os cristãos. Russell aceitava o entendimento teológico geralmente aceito, de que a proibição de Atos não vale para os cristãos e de que só valia para o primeiro século, para manter a paz entre Judeus e Gentios:

*** A Sentinela, 15 de Novembro de 1892, pp.350-351 (em inglês, tradução minha) ***
Ele ainda sugeriu que lhes escrevessem apenas que se abstenham das poluições dos ídolos, isto é, das carnes oferecidas aos ídolos (versículo 29) e das coisas estranguladas, e do sangue – sugerindo que, por comerem essas coisas, poderiam tornar-se pedras de tropeço para seus irmãos judeus (Ver 1 Coríntios 8: 4-13) – e da fornicação. … Note-se que nada é dito sobre observar os Dez Mandamentos, nem parte alguma da lei judaica. Era evidente que, recebendo o espírito de Cristo, a nova lei do amor seria um regulamento geral para eles. As coisas mencionadas eram meramente para evitar que tropeçassem ou que se transformassem em pedras de tropeço para outros.

*** A Sentinela, 15 de Abril de 1909, pp. 116-117 (em inglês, tradução minha) ***
Essas proibições nunca haviam chegado aos gentios, porque nunca estiveram sob o pacto da lei; mas as idéias judaicas sobre este assunto estavam tão profundamente enraizadas que era necessário, para a paz da igreja, que os gentios também observassem estes assuntos:
(1) Abster-se de sacrifícios aos ídolos;
(2) e de sangue,
(3) e das coisas estranguladas:
É nossa opinião, portanto, que estes itens assim superadicionados à lei do amor devem ser observados por todos os israelitas espirituais como representando a vontade divina.

Em 1945, a edição holandesa do livro Consolação criticava a proibição das transfusões de sangue como se fossem falta de misericórdia:

*** Consolação, Setembro de 1945, p.16 (traduzido do holandês) ***
Quando perdemos nossa vida porque recusamos inoculações, isso não dá testemunho como justificação do nome de Jeová. Deus nunca emitiu regulamentações que proíbem o uso de drogas, inoculações ou transfusões de sangue. É uma invenção de pessoas que,
como os Fariseus, deixem de lado a misericórdia e o amor de Jeová. 

Comer sangue era permitido até 1927. Mas, neste ano, Rutherford passou a afirmar que o pacto com Noé era eterno:

*** A Sentinela, Dezembro de 1927, p.371 (em inglês, tradução minha) ***
“”Ao mesmo tempo, Deus entrou em um pacto com Noé, pacto este que incluía todas as criaturas viventes; E esse pacto é designado pelo Senhor: “O pacto eterno”. … Deus disse a Noé que toda criatura vivente serviria de carne para ele; mas que ele não devia comer o sangue, porque a vida está no sangue.”

Se a doutrina sobre o sangue é tão crítica, deve-se perguntar por que Deus esperaria tantas décadas antes ensiná-la através da Torre de Vigia. Deve-se mesmo considerar como sérios os ensinamentos médicos da Torre de Vigia dos anos 20 e 30? Foi nessa época que o editor da Idade de Ouro (Golden Age), Woodworth, fez as afirmações de que “A medicina se originou na demonologia” e condenou vacinar, cortar cabelo de mulheres, mascar chicletes, usar panelas de alumínio e tomar café da manhã. – Veja a seção Alterações nas Recomendações Médicas.

A Sentinela de 1 de Julho de 1945, p.199-200 (em inglês) foi a primeira edição a afirmar que a proibição do sangue também se aplicava ao sangue humano. Mencionava as transfusões de sangue, mas não as proibia diretamente.

Só na década de 50 que a organização das Testemunhas de Jeová estabeleceu especificamente a proibição às transfusões de sangue, após 80 anos de funcionamento da Torre de Vigia.

Não é porque transfusões são algo novo que a organização gastou essas décadas todas pra proibi-las. Na verdade, A Sentinela de 1 de Julho de 1945 (em inglês) havia citado o Volume 4 da Enciclopédia Americana, Edição Revisada de 1929, dizendo (em inglês, tradução minha):

*** A Sentinela de 1 de Julho de 1945 (em inglês, tradução minh) ***
As transfusões de sangue existem desde a época dos antigos egípcios. O primeiro caso relatado é o praticado no papa Inocêncio VIII em 1492. … Foi no final do século 18 e no início do século 19 que se realizou o trabalho mais ativo no estabelecimento da transfusão como procedimento cirúrgico pós hemorragia.

Transfusões de sangue eram usadas com sucesso para tratar humanos no início dos anos 1800’s. Os tipos de sangue ABO já haviam sido identificados em 1930, e o primeiro banco de sangue foi estabelecido em 1932 (Fonte: bloodbook.com/trans-history.html, acessado em Out/2008). “Na década de 40, os cientistas começaram a separar o sangue em seus vários elementos constituintes.” (Despertai g90 22/10 p. 4)

Em 1951, esclareceu-se em grande detalhe que as Testemunhas de Jeová não devem usar sangue em nenhuma forma, mas continuou sendo uma questão de consciência, e não resultava em desassociação.

*** Sentinela 1 de Agosto de 1958, p.478 (em inglês, tradução minha) ***
“Contudo, as congregações nunca foram instruídas adesassociar aqueles que voluntariamente tomam transfusões de sangue ou as aprovam. Nós deixamos o julgamento de tais violadores da lei de Deus, concernente à santidade do sangue, para Jeová, o Supremo Juiz”.

A partir da Sentinela de 15 de janeiro de 1961, pp.63-64 (em inglês), as transfusões de sangue tornaram-se base para desassociação, destacando a importância que essa doutrina havia adquirido dentro da organização das Testemunhas de Jeová.

*** Proclamadores – jv cap. 13 p. 183 ***
A partir de 1961, quem quer que desconsiderasse esse requisito divino, aceitando transfusão de sangue, e manifestasse uma atitude impenitente seria desassociado da congregação das Testemunhas de Jeová.

Isso se aplica a uma Testemunha de Jeová que come ou recebe transfusão de sangue, ou aos pais que permitem que seus filhos recebam uma transfusão de sangue. É assim, apesar do Novo Testamento nunca listar o consumo de sangue como uma razão para a expulsão da congregação.

Vacinas

Vacinas eram aceitáveis no início da organização.

1921 – A partir de 1921, uma série de artigos foram apresentados na Idade de Ouro descrevendo as vacinações como ofenças ao pacto eterno de Deus. (Idade de Ouro 12 de Out de 1921 p.17; 4 de Fev de 1931 p.293) Veja a seção Alterações Médicas – Vacinações

1952 – Depois de 30 anos, a organização das Testemunhas de Jeová voltou à sua posição original, permitindo de novo as vacinas. (Sentinela 15 de Dezembro de 1952, p.764, em inglês)

Transplantes de órgãos

Os transplantes de órgãos foram originalmente descritos como “maravilhosos e úteis”. (Despertai! 22 de Dez de 1949 p.20, em inglês, tradução minha)

1967 – Os transplantes foram proibidos para as Testemunhas de Jeová, e comparados ao canibalismo. Esta posição continuou durante a década de 1970. (A Sentinela 15 de Nov de 1967 p.702-704, em inglês)

1980 – A organização anulou a decisão de 1967, e os transplantes tornaram-se aceitáveis mais uma vez. (A Sentinela w80 1/9 p.31, Perguntas dos Leitores)

Comer Sangue

Inicialmente, comer sangue era permitido. (A Sentinela, 15/Nov/1892 pp.349-352; 15/Abr/1909 pp.116-117, em inglês)

1927 – Comer sangue foi proibido (A Sentinela de Dezembro de 1927 p.371, em inglês)

Soro de Sangue

1954 – Proibido.

*** Despertai de 8 de Janeiro de 1954 p.24 ***
“Dizem-nos que é preciso 600 mL de sangue integral para obter proteína do sangue ou” fração “, conhecida como gamaglobulina, suficiente para uma injeção… o fato de ser feita de sangue total coloca-a na mesma categoria das transfusões de sangue, quando se considera a proibição de Jeová de aceitar sangue em seu sistema. “

1958 – Permitido (A Sentinela 15 Set 1958 p.575)

1963 – Proibido (A Sentinela 15 Fev 1963 p.124)

1965 – Permitido (A Sentinela 15 Nov 1964 pp.680-3)

1974 – Questão de consciência (A Sentinela 1 Jun 1974 p.352)

Hemodiluição

1972 – Proibida.

*** g72 22/10 pp. 29-30 ***
The Journal of the American Medical Association, datado de 15 de novembro de 1971, descreveu um processo para a cirurgia a coração aberto que emprega “dispersa hemodiluição”. No início da operação, grande quantidade de sangue é retirada para uma bolsa plástica de sangue. Embora a bolsa esteja ligada ao paciente por um cateter, o sangue removido e estocado não mais circula no sistema do paciente. É substituído por um expansor do volume do plasma, que dilui o sangue restante nas veias e que gradualmente se dissipa durante a operação. Perto do fim da operação, a bolsa de sangue estocado é erguida, e o sangue estocado é reinfundido no paciente. O Times de Nova Iorque, de 9 de novembro de 1971, noticiou um processo um tanto similar em que, alguns dias antes de a pessoa ser operada, até quatro pintas de sangue são removidas e estocadas. Durante a operação, o próprio sangue estocado da pessoa é transfundido de volta, assim evitando o perigo de sangue infetado ou de diferente tipo. Tais técnicas são dignas de nota para os cristãos, visto que se chocam com a Palavra de Deus. A Bíblia mostra que o sangue não deve ser retirado do corpo, estocado e então usado mais tarde.

1982 – Proibida.

*** g82 22/12 p. 22 ***
As técnicas de drenagem ou de hemodiluição intra-operatórias que envolvam guardar o sangue para ser reposto lhes são inaceitáveis.

1983 – Permitida.

*** g83 8/7 p. 32 ***
“Com isso em mente, e não só para respeitar as solicitações das Testemunhas de Jeová, que Denton Cooley [de Houston, Texas, EUA] tem realizado cirurgias a coração aberto já por mais de sete anos, limitando as transfusões sempre que possível em favor da substituta hemodiluição, diluindo o sangue do paciente com uma solução de glucose e heparina.

Transfusões de Sangue

Inicialmente aceitas. As transfusões e doações de sangue foram elogiadas na Idade de Ouro de 29 de Julho de 1925, p.683, na de 1 de Maio de 1929 p. 502 e no livro Consolação de 25 de Dezembro de 1940 p. 19.

*** Livro Consolação de 25 de Dezembro de 1940 p. 19 (em inglês, tradução minha) ***
O conserto de um Coração – Na cidade de Nova York, uma dona de casa, ao mover as coisas de um pensionista, acidentalmente atirou em seu próprio coração com o revólver dele. Ela foi levada rapidamente ao hospital, cortaram ao redor do seu peito esquerdo, cortaram quatro de suas costelas, o coração foi levantado e recebeu três pontos, um dos médicos atendendo na emergência doou um quarto de seu sangue para transfusão, e hoje a mulher vive e sorri alegremente sobre o que aconteceu a ela nos 23 minutos mais intensos de sua vida.

1945 – Proibidas. Afirmaram pela primeira vez que as transfusões são erradas. (A Sentinela de 1 de Julho de 1945, p. 198-201, em inglês)

1961 – Tornou-se base para desassociação (A Sentinela, 15 de Janeiro de 1961, p.63-64, em inglês)

Em 1961 foi claramente especificado que a lei do sangue se aplica tanto ao sangue integral quanto aos componentes do sangue, tais como as frações de sangue e a hemoglobina.

*** A Sentinela, 1 de Novembro de 1961, p.669 ***
“Se você tem razão para acreditar que um determinado produto contém sangue ou uma fração de sangue, se o rótulo diz que certos comprimidos contêm hemoglobina, isso é de sangue … um cristão sabe, sem dúvidas, que ele deve evitar tal produto.
 

Tornando-se gradualmente permitido novamente

1982 – Alguns componentes do sangue foram listados, e alguns componentes menores foram permitidos. Componentes primários e hemodiluição foram proibidos. (g82 22/12 p. 22)

1995Hemodiluição Normovolêmica Aguda (HNA) e Procedimento de recuperação sangüínea autóloga (Recuperação Intraoperatória de Sangue) são aceitáveis, apesar de o sangue ser brevemente armazenado fora do corpo. (w95 1/8 p. 30)

2000 – Alteração primária na política sobre o sangue, com todo o sangue passando a ser aceitável quando convertido em frações menores.

*** w00 15/6 p. 31 ***
“…quando a questão envolve frações de quaisquer componentes primários, cada cristão deve conscienciosamente decidir o que fazer, após cuidadosa meditação com oração.”

A Sentinela w04 15/6 p.19-23 contém uma discussão detalhada sobre o sangue e inclui um gráfico para mostrar que as transfusões de sangue integral e componentes ‘principais’ são proibidas. Explicam que o entendimento deles é de que os componentes principais são os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plasma e plaquetas. Contudo, podem ser utilizadas fracções destes quatro componentes.

Em outras palavras, quando o sangue é mais fracionado até atingir componentes menores, 100% dele pode ser transfundido pelas Testemunhas de Jeová.


“Mantenha-se no amor de Deus” (2008) p.218 (veja no site jw.org)

Hemoglobina

A hemoglobina é o que define o sangue, visto que ela carrega o oxigênio. É também um componente principal do sangue considerando-se sua massa, correspondendo a 33% dos glóbulos vermelhos e 14% do sangue total. Assim sendo, aceitar hemoglobina faz a proibição de sangue das Testemunhas de Jeová ficar sem sentido algum.

1992 – Especificamente proibida

*** w92 15/10 p. 31 Perguntas dos Leitores ***
Naturalmente, seria correto evitar produtos que alistam coisas tais como sangue, plasma sanguíneo, plasma, globina (ou globulina) proteínica; ou ferro hemoglobínico (ou globínico).

2000 – Indiretamente Permitida. Visto que o artigo de A Sentinela de 15 de Junho de 2000, p. 29 dizia que as frações dos 4 componentes principais do sangue eram permitidas, a hemoglobina foi indiretamente permitida, visto que é uma fração dos glóbulos vermelhos. A mesma conclusão poderia ser obtida do gráfico do artigo de 2004.

2006- Especificamente Permitida. No Nosso Ministério do Reino de Março de 2007, p. 5, uma planilha (copiada abaixo) afirmou, especificamente, que aceitar hemoglobina é uma decisão pessoal.

Veja a planilha abaixo, do km 3/07 p. 5:

Planilha 1
INACEITÁVEIS
PARA OS CRISTÃOS
SUA DECISÃO PESSOAL
SANGUE TOTAL FRAÇÕES Escolhas que você deve fazer
PLASMA ALBUMINA — ATÉ 4% DO PLASMA
Proteína extraída do plasma.
Certos tipos de albumina
também são encontrados em
plantas, em alimentos como
leite e ovos, e no leite
materno. A albumina do sangue
às vezes é usada em
expansores de volume no
tratamento de choque e
queimaduras graves. Esses
expansores podem ter um
teor de albumina de
até 25%. Pequenas
quantidades de
albumina são usadas em
outros medicamentos,
incluindo algumas
formulações de
eritropoetina (EPO).
( ) Aceito albumina
ou
( ) Recuso albumina
IMUNOGLOBULINAS
— ATÉ 3% DO PLASMA
São frações de proteínas
que podem ser usadas em
medicamentos para
combater vírus e
doenças como difteria,
tétano, hepatite viral
e raiva. Elas também
podem ser usadas para
proteger um embrião de
certas patologias que
ameacem sua vida e
para neutralizar os
efeitos do veneno de
cobras e aranhas.
( ) Aceito
imunoglobulinas
ou
( ) Recuso
imunoglobulinas
FATORES DE COAGULAÇÃO
— MENOS DE 1% DO PLASMA
Existem várias proteínas
que ajudam na coagulação
do sangue para estancar
hemorragias. Algumas
são administradas em
pacientes que sangram
facilmente. Elas
também são usadas em
colantes médicos para
fechar ferimentos
e impedir sangramentos
após uma cirurgia. O
crioprecipitado é
uma combinação de
fatores de coagulação.
Observação: Hoje em dia,
alguns fatores de
coagulação são
produzidos sem sangue.
( ) Aceito fatores
de coagulação
derivados de
sangue
ou
( ) Recuso fatores
de coagulação
derivados de
sangue
GLÓBULOS
VERMELHOS
HEMOGLOBINA
— 33% DOS GLÓBULOS VERMELHOS
Proteína que transporta
oxigênio pelo corpo e
gás carbônico para os
pulmões. Produtos ainda
em desenvolvimento
elaborados de
hemoglobina humana ou
animal poderão ser
usados no tratamento de
pacientes com anemia
aguda ou grandes perdas
de sangue.
( ) Aceito
hemoglobina
ou
( ) Recuso
hemoglobina
HEMINA — MENOS DE 2%
DOS GLÓBULOS VERMELHOS
Enzima inibidora
derivada da
hemoglobina e
usada no tratamento de
um grupo raro de doenças
genéticas ligadas ao
sangue (conhecidas
como porfirias) que
afetam os sistemas
digestivo, nervoso e
circulatório.
( ) Aceito hemina
ou
( ) Recuso hemina
GLÓBULOS
BRANCOS
INTERFERONS — PEQUENA
FRAÇÃO DOS GLÓBULOS BRANCOS
São proteínas que combatem
certas infecções virais
e certos tipos de câncer.
A maioria dos interferons não
é derivada de sangue. Alguns
são derivados de frações
dos glóbulos brancos de
sangue humano.
( ) Aceito
interferons
derivados de
sangue
ou
( ) Recuso
interferons
derivados de
sangue
PLAQUETAS Até o momento, frações de
plaquetas não foram
isoladas para uso direto
em tratamentos médicos

FONTE: km 3/07 p. 5, [Tabela na página 5]

Determinando Quais Frações Permitir

Em 1958, o critério para determinar o que era aceitável tinha relação com o componente “nutrir” ou não o corpo, fazendo com que soros fossem permitidos:

*** A Sentinela de 15 de Setembro de 1958, p.575 (em inglês, tradução minha) ***
Embora Deus não tivesse a intenção de que os homens contaminassem sua corrente sanguínea pelas vacinas, pelos soros e pelas frações de sangue, parece que essas coisas não estão incluídas na vontade expressa de Deus que proibia o sangue como alimento. Seria, portanto, questão de decisão pessoal se alguém aceitar esses tipos de medicamentos ou não.

Em 1982, o conceito de “nutrição” foi substituído com a consideração de se uma fração era um componente “principal”. Ccomponentes principais são proibidos, mas certos componentes menores são permitidos:

*** g82 22/12 p. 22 Testemunhas de Jeová — o desafio cirúrgico/ético ***
Embora estes versículos não estejam expressos em termos médicos, as Testemunhas consideram que proíbem a administração de transfusão de sangue total, de GVs e de plasma, bem como de GBs e plaquetas sob forma concentrada. Entretanto, o entendimento religioso das Testemunhas não proíbe de modo absoluto o uso de componentes como a albumina, as imunoglobulinas e os preparados anti-hemofílicos, cabe a cada Testemunha decidir individualmente se deve aceitar esses.

Em 1990, a consideração para decidir quais componentes menores podem ser usados estava relacionada à transferência de placenta.

*** w90 1/6 p. 31 Perguntas dos Leitores ***
Esta transferência natural de algumas frações protéicas do plasma para o sistema sanguíneo de outrem (o feto) pode ser outro fator a ser considerado quando o cristão tem de decidir se aceitará imunoglobulina, albumina ou injeções similares de frações do plasma. Uma pessoa talvez decida que pode aceitar isso em boa consciência; ou talvez conclua que não pode. Cada indivíduo tem de resolver o assunto em base pessoal perante Deus.

Em 2000, a regra foi muito simplificada. Componentes “principais” não podem ser usados, mas frações “menores” podem, embora a seção abaixo vá mostrar que não há base ou lógica por trás desse raciocínio. Esta distinção é identificada no livro de 2008, Mantenha-se no Amor de Deus.

Base Bíblica para a doutrina do Sangue

O consumo de células do sangue não é um problema na Bíblia, visto que a carne podia ser comida apesar de conter sangue. A questão era o respeito pela santidade da vida. Embora as leis bíblicas sobre o sangue tenham mudado ao longo do tempo, a exigência de mostrar respeito pela vida nunca mudou. Será que recusar sangue em uma situação de vida ou morte mostra respeito pela vida? É interessante examinar o desenvolvimento bíblico.

Noé

Vamos começar pelas 7 Leis de Noé:

*** bq p. 8 par. 15 ***
Com efeito, judeus posteriores compuseram, da primeira parte de Gênesis, sete “leis básicas” para a humanidade, e esta ordem dada a Noé e seus filhos sobre o sangue era uma delas. Sim, apesar de a maioria das nações não a seguirem, tratava-se realmente de uma lei para toda a humanidade. — Atos 14:16; 17:30, 31.

Desde o tempo de Noé, há 7 leis que mesmo os não-judeus eram obrigados a obedecer depois de se tornarem adoradores do Deus de Abraão. Obedecer as leis de Noé não garante a salvação de ninguém – até os judeus sabem que obedecer essa lei não traz salvação. Só o Messias salva. Essas leis são simplesmente instruções para o nosso próprio bem. A palavra “Lei” significa instrução. As 7 Leis de Noé, conforme Gênesis capítulo 9, são:

  1. Comportar-se com justiça em todos os relacionamentos e estabelecer tribunais de justiça.
  2. Abster-se de blasfemar o nome de Deus.
  3. Abster-se de praticar idolatria.
  4. Evitar práticas imorais, especificamente incesto e adultério.
  5. Para evitar derramar o sangue do seu próximo.
  6. Abster-se de roubar seu próximo.
  7. Abster-se de comer um membro rasgado de um animal vivo.

Essas são as únicas leis que os Judeus consideram como aplicáveis também aos Gentios, e nenhuma delas tinha relação alguma com comer sangue.
As Testemunhas de Jeová afirmam que o mandamento de abster-se de sangue originou-se com Noé:

*** w08 1/10 p. 31 Como a minha fé me ajudou a enfrentar tragédias ***
Ele só impôs esta restrição: não deviam consumir sangue. (Gênesis 9:3, 4)

Gênesis 9:4 não está falando de comer sangue. Noé recebeu o seguinte mandamento:

(Gênesis 9:4) Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer.

Este mandamento é sobre o respeito pela vida animal durante o ritual de abate. Isto não indica que o sangue não poderia ser comido. O significado hebraico específico é de que um animal não deve ter carne arrancada dele para alimento, enquanto o animal ainda está vivo. Em geral, entende-se que, por respeito à vida dos animais, devem ser sangrados quando forem mortos para servir de alimento. É um mandamento contra comer coisas estranguladas.

Esse texto é fundamental para as Testemunhas de Jeová, que o utilizam pra dizer que transfusões de sangue não podem ser usadas, tentando aplicá-lo ao consumo de sangue humano. Nenhum dos 2 pontos é afirmado na bíblia.

Até as próprias Testemunhas de Jeová reconheciam, originalmente, que Gênesis 9:4 não tem relação com comer sangue, como mostra o seguinte artigo que tentava provar que as vacinas eram erradas:

*** Idade de Ouro, 4 de Fevereiro de 1931, p. 294 ***
“Toda mente razoável deve concluir que não era ao consumo de sangue que Deus objetou, mas sim colocar o sangue dos animais em contato com o sangue humano.”

Para provar que a Lei de Noé tinha relação apenas com o ato de matar o animal, e não com o sangue em si, Deuteronômio 14:21 permitia que os Israelitas vendessem para os residentes forasteiros e estrangeiros, como alimento, os animais não sangrados encontrados já mortos. Isso era possível porque o residente forasteiro obedecia as Leis de Noé, mas não a Lei Mosaica.

Lei Mosaica

A Lei Mosaica continha mais de 600 leis para a Nação de Israel – um acréscimo enorme em relação às leis de Noé. Pela primeira vez, a lei dizia que o sangue não podia ser comido. Quem comesse seria punido com sentença de morte.

(Levítico 17:10) “‘Se algum homem da casa de Israel ou algum estrangeiro que mora entre vocês comer o sangue de qualquer criatura, eu certamente me voltarei contra aquele que comer o sangue, e o eliminarei dentre seu povo.”

Ainda assim, esta lei também relacionava-se com o ritual de sangrar um animal abatido para alimento, e não ao sangue em si. Isso pode ser visto pelo que é dito 5 versículos depois:

(Levítico 17:15) “Se alguém, quer israelita, quer estrangeiro, comer a carne de um animal que tenha sido encontrado morto ou que tenha sido dilacerado por um animal selvagem, esse homem terá de lavar suas roupas e se banhar em água, e ficará impuro até o anoitecer; então ficará puro.”

Se o animal já estivesse morto, não havia pena de morte por comer um animal que não havia sido sangrado. Exigia-se apenas que o homem se lavasse por ter ficado impuro ao tocar num animal morto.

Toda a Lei Mosaica cessou quando Jesus morreu. (Romanos 10:4) Visto que a Lei de Moisés não mais se aplica aos cristãos, as leis Mosaicas sobre o sangue não precisam ser seguidas. A morte de Jesus colocou um fim no aspecto legalista da vida ditada pela Lei Mosaica. Suas declarações de que os cristãos não ficam impuros pelo que comem incluem a Lei Mosaica sobre comer porco, ostras e sangue.

(Mateus 15:11)  Não é o que entra pela boca do homem que o torna impuro, mas é o que sai da boca que o torna impuro.

(Marcos 7:15) Não há nada fora de um homem que, entrando nele, possa torná-lo impuro; mas as coisas que saem do homem são as que o tornam impuro.

Davi

Desde Davi, pode-se notar que a regra sobre o sangue tinha relação com o ritual de matar para obter alimento. Não se exigia de Davi que sangrasse ursos e leões que eram mortos para proteger o rebanho. (1 Samuel 17:34-36)

Em 2 Samuel 23:13-17, quando os guerreiros valentes arriscaram suas vidas para obter água fresca para Davi, ele a derramou para Jeová (similar à regra do sangue) e deu bronca nesses homens por não respeitarem a santidade de suas próprias vidas. As palavras usadas por Davi são esclarecedoras:

(2 Samuel 23:16-17) Mas ele não quis bebê-la e a derramou para Jeová. Ele disse: “Eu jamais faria isso, ó Jeová! Como eu poderia beber o sangue dos homens que arriscaram sua vida?”

O paralelo feito por Davi entre o sangue e a vida mostra que não é o sangue literal que importa para Jeová, mas sim o respeito pela vida. Jeová condena arriscar a vida desnecessariamente. Podemos ver, sem sombra de dúvidas, que Jeová preferiria salvar a vida literal de alguém, mesmo que isso envolvesse usar um tratamento com sangue, porque o sangue é um mero símbolo da vida sendo salva.

Primeiros Cristãos

Como já falamos anteriormente, Jesus mostrou que salvar a vida sempre foi mais importante do que a obediência estrita à Lei Mosaica. A razão para os requisitos estritos na Lei Mosaica era para mostrar a necessidade do sacrifício de Resgate de Jesus. Assim, a Lei Mosaica deixou de valer quando Jesus morreu pela humanidade.

(Colossenses 2:13, 14) Ele nos perdoou bondosamente todas as nossas falhas e apagou o documento manuscrito que consistia em decretos e estava em oposição a nós. Ele o removeu, pregando-o na estaca.

As Testemunhas de Jeová, no entanto, têm usado a Lei Mosaica para formular suas regras do sangue:

*** w00 15/10 pp. 30-31 Perguntas dos Leitores ***
Às vezes, o médico incentiva o paciente a se submeter à coleta de seu próprio sangue semanas antes da cirurgia (doação autóloga pré-operatória, ou DAPO) para que, se houver necessidade, ele possa transfundir o sangue do próprio paciente. Contudo, o ato de coletar, armazenar e transfundir o sangue é diretamente contrário ao que é dito em Levítico e em Deuteronômio. O sangue não deve ser armazenado; deve ser derramado — devolvido a Deus, por assim dizer. É verdade que a Lei mosaica não está mais em vigor. Contudo, as Testemunhas de Jeová respeitam os princípios que Deus incluiu nela, e estão decididas a ‘abster-se de sangue’. Por isso, não doamos sangue, nem armazenamos para transfusão nosso sangue, que deve ser ‘derramado’. Essa prática entra em conflito com a lei de Deus.

Ao usar a Lei Mosaica para criar tal regra para seus seguidores, as Testemunhas de Jeová reduzem o valor do sangue de Cristo como Resgate. O apóstolo Paulo deu um alerta contra aquelas pessoas que insistem na Lei Mosaica:

(2 Coríntios 3:14-15) Mas a mente deles ficou insensível. Pois até hoje, quando o antigo pacto é lido, o mesmo véu permanece sem ser levantado, visto que ele só é removido por meio de Cristo. De fato, até hoje, sempre que Moisés é lido, um véu cobre o coração deles.

Atos 15 – Abster de Sangue?

Há uma ocasião que, num primeiro momento, pode parecer complicar a questão sobre o sangue, e é o texto-chave usado pelas Testemunhas de Jeová para justificar sua posição. Em Atos 15:21 está registrado que os Apóstolos e os Anciãos deram um decreto para “abster-se de sangue”. À primeira vista, isto pode ser levado a sugerir que a Lei Mosaica continuaria aplicando aos cristãos a regra do consumo de sangue. É assim que as Testemunhas de Jeová interpretam Atos 15, e é o argumento principal delas para recusar transfusões de sangue.

Atos 15:21 não se aplica a transfusões de sangue quando compreendido em seu contexto histórico e religioso. A maioria das religiões cristãs não entende tal texto como uma lei obrigatória, e Charles Taze Russell também não entendia assim. Como já foi demonstrado, a lei de Noé sobre o sangue não proibia comer sangue, mas era sobre demonstrar respeito ao tirar a vida de um animal. Transfusões de sangue não envolvem tirar a vida de ninguém.

O mandamento de Atos:

  1. Não é uma lei obrigatória para todos os indivíduos;
  2. Não se aplica a transfusões de sangue.

A situação em Atos 15 era muito específica. Os cristãos judeus estavam tendo dificuldade em aceitar cristãos gentios, particularmente no que diz respeito à circuncisão. Paulo, o Apóstolo das Nações, estava convertendo gentios. Ele ensinava, corretamente, que eles não eram obrigados a seguir a Lei Mosaica. Os Judaizantes eram um grupo de judeus cristãos que afirmam ser superiores aos cristãos gentios devido ao fato de seguirem a Lei Mosaica. Como explicado na Nova Enciclopédia Católica, os Judaizantes eram (em inglês, tradução minha):

“Um grupo de cristãos judeus na Igreja Primitiva, que ou consideravam que a circuncisão e a observância da Lei Mosaica eram necessárias para a salvação e, em consequência, desejavam impô-las aos convertidos gentios, ou que pelo menos as consideravam ainda obrigatórias Cristãos judeus”.

Os Apóstolos e os anciãos se reuniram para discutir a aplicação da Lei Mosaica e chegaram à conclusão de que a observância da Lei Mosaica era desnecessária. No entanto, eles recomendaram que os “crentes dentre as nações” observassem 4 coisas da Lei Mosaica:

(Atos 21:25)  Quanto aos crentes dentre as nações, enviamos a eles por escrito a nossa decisão de que devem se abster do que é sacrificado a ídolos, bem como de sangue, do que foi estrangulado e de imoralidade sexual.”

Esta não é uma lista com todas as coisas que os cristãos precisavam evitar (faltou aí o assassinato, por exemplo). Então, porque será que esta lista incomum foi dada? Era para evitar fazer irmãos Judeus tropeçarem. Isso foi explicado na Sentinela de 15 de Abril de 1909, páginas 116-117, e é o entendimento comum dos Cristãos. A Nova Enciclopédia Católica diz (em inglês, tradução minha):

“Essas quatro proibições foram impostas em prol da caridade e da união: visto que elas proibiam práticas que eram especialmente rejeitadas por todos os judeus, sua observância era necessária para evitar chocar os irmãos judeus e para permitir boas relações entre as duas classes de cristãos. Com o desaparecimento da comunidade judaico-cristã de Jerusalém na época da rebelião (anos 67-70 A.D.), a questão sobre a circuncisão e a observância da Lei deixaram de ter importância na Igreja, e logo se tornaram uma questão morta”. (A Enciclopédia Católica, Volume VIII, Copyright 1910 de Robert Appleton Company, Online Edition Copyright 2003 por K. Knight, newadvent.org acessado em 17 de Set 2005)

Como é que Russell e os eruditos chegaram a essa conclusão? Primeiro, visto que a Lei Mosaica parou de se aplicar, não faz sentido que Cristãos mantenham apenas essa parte dela. É fácil perceber isso, principalmente se observarmos que essas 4 coisas não são as únicas regras da Lei Mosaica que os Cristãos seguem, nem são as mais importantes.

O versículo seguinte de Atos 15 explicou porque as 4 coisas mencionadas foram escolhidas especificamente:

(Atos 15:19-21) Por isso, a minha decisão é não causar dificuldades a essas pessoas das nações, que estão se convertendo a Deus, mas lhes escrever para que se abstenham de coisas contaminadas por ídolos, de imoralidade sexual, do que foi estrangulado e de sangue. Pois, desde os tempos antigos, Moisés tem os que o pregam em cada cidade, porque ele é lido em voz alta nas sinagogas todo sábado.”

A Lei Mosaica era lida nas sinagogas todo sábado. A passagem de Levítico 17:1 a 18:27 aplicava-se tanto a Judeus quanto aos Gentios. Essa passagem tem esses mesmos 4 requisitos, listados nessa mesma ordem de Atos 21:25:

  • Levítico 17:7 – sacrifícios a ídolos
  • Levítico 17:10 – comer sangue
  • Levítico 17:13 – sangrar animais
  • Levítico 18 – fornicação

Estas eram as regras obrigatórias tanto para os Israelitas quanto para os estrangeiros vivendo na Israel antiga. Essas regras eram consideradas como de máxima importância para os Judeus, por basearem-se na Lei de Noé.

  • Gênesis 8:20 “Noé começou a construir um altar para Jeová” introduziu o conceito de abstinência da idolatria;
  • Gênesis 9:1 “Sede fecundos, tornai-vos muitos, e enchei a terra” introduziu a ideia do casamento sem fornicação;
  • Gênesis 9:4 “Somente a carne com a sua alma – o seu sangue – não deves comer” era a abstinência das coisas estranguladas;
  • Gênesis 9: 6 “Todo aquele que derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue” introduziu a lei do sangue, proibindo o assassinato. Mais uma vez vemos que o fundamento da lei sobre o sangue era o respeito pela vida.

É por isso que essas 4 leis significavam tanto para os Judaizantes, e é por isso que os Apóstolos concluíram que elas eram necessárias para evitar fazer tropeçar os cristãos judeus das congregações vizinhas.

Paulo afirma especificamente que não há nada de errado em comer comida sacrificada a ídolos, e explica que essa proibição foi feita só para não fazer outros tropeçarem. Essa questão só era problemática nas congregações onde havia problemas entre cristãos Judaizantes e cristãos Gentios:

(1 Coríntios 8:4-13) Quanto a comer alimentos oferecidos a ídolos, sabemos que o ídolo não é nada no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Pois, embora haja os que são chamados deuses, quer no céu, quer na terra, assim como há muitos “deuses” e muitos “senhores”, para nós há realmente um só Deus, o Pai, de quem procedem todas as coisas, e nós existimos para ele; e há um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem são todas as coisas, e nós existimos por meio dele. No entanto, nem todos têm esse conhecimento. Mas alguns, devido à familiaridade que tinham com os ídolos, comem o alimento como algo sacrificado a um ídolo, e a consciência deles, que é fraca, fica contaminada. Mas o alimento não nos aproximará de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos. Tomem cuidado, porém, para que o seu direito de escolha não se torne de algum modo uma pedra de tropeço para os que são fracos. Pois, se alguém vir você, que tem conhecimento, tomando uma refeição no templo de um ídolo, será que a consciência daquele que é fraco não ficará ousada a ponto de ele comer alimentos oferecidos a ídolos? Assim, pelo conhecimento que você tem, está sendo arruinado aquele que é fraco, seu irmão pelo qual Cristo morreu. Quando vocês pecam assim contra os seus irmãos e ferem a consciência fraca deles, estão pecando contra Cristo. É por isso que, se o alimento fizer o meu irmão tropeçar, nunca mais comerei carne alguma, para que eu não faça o meu irmão tropeçar.

(1 Coríntios 10:25-33) Comam de tudo o que se vende no açougue, sem fazer perguntas por causa da sua consciência, pois “a Jeová pertence a terra e tudo o que nela há”. Se algum descrente os convidar para uma refeição, e vocês quiserem ir, comam de tudo o que se puser diante de vocês, sem fazer perguntas por causa da sua consciência. Mas, se alguém lhes disser: “Isso é algo oferecido em sacrifício”, não comam, por causa daquele que lhes disse isso e por causa da consciência. Não me refiro à sua própria consciência, mas à da outra pessoa. Pois, por que a minha liberdade deveria ser julgada pela consciência de outro? Se eu dou graças quando participo de uma refeição, por que serei criticado por causa daquilo pelo qual dou graças? Portanto, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam todas as coisas para a glória de Deus. Não se tornem motivo de tropeço para judeus, nem para gregos, nem para a congregação de Deus, assim como eu estou tentando agradar a todos em todas as coisas, não buscando a minha própria vantagem, mas a do maior número de pessoas, para que sejam salvas.

Embora o decreto de Atos 15 diga para se abster de comer comida sacrificada a ídolos, Paulo deixa claro que não há nada de errado com esta prática. Ele disse que era apenas errado quando fazia tropeçar irmãos, neste caso os judaizantes. O mesmo princípio se aplica ao sangue. Atos 15 inclui comida sacrificada a ídolos, sangue e animais estrangulados porque causavam tropeços nas congregações misturadas (com cristãos judaizantes e cristãos gentios) devido à leitura da Lei Mosaica “na Sinagoga todo sábado”. Essas práticas não eram (e não são) ofensivas a Deus. Este problema praticamente deixou de existir após a destruição do templo em 70 A.D., e não tem relevância alguma em nossa época.

A abstinência de sangue nunca é mencionada em nenhum outro contexto no Novo Testamento. Nunca se diz que serve de base para cortar relações com algum irmão. Paulo não menciona comer sangue em 1 Coríntios 5 como uma razão para “cessar de ter convivência” com um irmão, nem João menciona isso. Em Apocalipse 21:8, e 1 Coríntios 6, não se diz que o sangue seja uma razão para não herdar o Reino de Deus. Se evitar sangue fosse uma exigência fundamental de Deus, seria mencionado ao lado de pecados como fornicação, assassinato e idolatria, que são repetidamente condenados no Novo Testamento.

Direitos das Crianças

Os pais têm o dever de cuidar dos filhos, e as autoridades governamentais devem afastar uma criança dos pais que maltratem ou coloquem a criança em perigo. Essa é uma questão especialmente sensível quando os pais permitem que suas crenças religiosas afetem o cuidado que eles fornecem. Quando uma Testemunha de Jeová recusa a transfusão de sangue para uma criança em situação de vida ou morte, é muito comum que a justiça determine a realização da transfusão de sangue, contra a vontade dos pais.

A publicação das Testemunhas de Jeová com o título Como Pode o Sangue Salvar sua Vida? concorda que o Estado deve proteger as crianças, mas afirma que nesse caso, é diferente:

*** hb p. 21 ***
É evidente que o Estado pode e deve intervir para proteger o menor abandonado. Ainda assim, é fácil ver quão diferente é quando um genitor que se importa com o filho solicita um tratamento médico de alta qualidade, isento de sangue.

Comparar Transfusões forçadas a Estupro

A revista A Sentienla compara as transfusões de sangue determinadas pela justiça a um estupro:

*** w80 15/9 p. 27 ***
Isto é especialmente assim em vista da relação que a Bíblia faz entre a abstinência do sangue e coisas tais como a abstinência da fornicação. Portanto, uma vez que as cristãs resistiriam ao estupro — a um aviltante ataque sexual — os cristãos também resistiriam a transfusões de sangue ordenadas por um tribunal — que também é uma forma de ataque contra o corpo.

*** km 2/91 p. 6 pars. 34-35 ***
Certa irmã respondeu a um juiz que nesse caso ela não seria responsável pelo que ele decidiu. Embora a resposta estivesse correta de certo ponto de vista, o juiz entendeu que, visto que ela não seria responsabilizada, ele assumiria a responsabilidade em lugar dela. Ele ordenou a transfusão. Você deve entender que, ao fazerem tais perguntas, alguns deles estão geralmente em busca de uma maneira de contornar sua recusa de aceitar sangue. Não lhes dê, inadvertidamente, uma base para isso! Então, como evitaríamos esse mal-entendido? Você poderia responder: “Se eu fosse forçado, de uma forma ou de outra, a tomar sangue, isto seria, para mim, o mesmo que ser estuprado. Eu sofreria pelo resto da vida as conseqüências emocionais e espirituais desse ataque indesejado à minha pessoa. Resistiria com todas as minhas forças a tal violação do meu corpo sem consentimento. Faria tudo ao meu alcance para processar meus agressores, assim como faria em caso de estupro.”

O estupro é, geralmente, violento e traumático, com repercussões emocionais a longo prazo. Uma transfusão de sangue não é mais traumática do que o resto de uma operação. Mas as Testemunhas de Jeová criaram essa “culpa” de que tal procedimento médico destruirá o relacionamento de uma pessoa com Deus e qualquer chance de vida eterna. No caso de uma transfusão determinada pela justiça, essa culpa é particularmente injusta. A afirmação de que o estupro é “uma agressão sexual difamadora” também é injusta. Isso tudo faz lembrar as declarações da Sentinela que relacionam estupro e fornicação.

Permitir que uma criança morra por causa de crenças religiosas não é diferente de outras formas de negligência. A maioria das Testemunhas de Jeová concorda que é errado quando crianças morrem por causa de ideologias médicas de outros grupos religiosos, como a Cientologia. Embora tratamento sem sangue seja aceitável, isso nem sempre é possível, como em situações de emergência e durante a perda súbita de sangue. Além disso, o tratamento de crianças é mais arriscado devido ao seu menor volume sanguíneo.

Quando a criança nasce, ela não tem crença alguma. As crenças são impostas aos filhos por seus pais. No caso das Testemunhas de Jeová, estima-se que dois terços dos filhos acabam abandonando a religião. Será que é aceitável um pai arriscar a vida de um filho por causa de uma crença, sendo que há mais chance desse filho discordar da religião quando ficar adulto?

As crianças Testemunhas de Jeová são treinadas para dizer que as transfusões de sangue determinadas pela justiça são comparáveis a um estupro:

*** w91 15/6 p. 17 pars. 17-18 ***
O juiz escreveu: “D. P. afirmou que resistiria a uma transfusão de sangue de todas as maneiras que pudesse. Ela considerava a transfusão como violação de seu corpo e comparou-a ao estupro. Pediu ao Tribunal que respeitasse a sua escolha e que lhe permitisse continuar no [hospital] sem receber transfusões de sangue impostas judicialmente.” A instrução cristã que ela recebera socorreu-a nessa ocasião difícil. — Veja quadro. 18 Uma mocinha de 12 anos estava sendo tratada de leucemia. Uma agência de proteção ao menor levou o caso ao tribunal, para que se lhe impusesse sangue. O juiz concluiu: “L. disse a este tribunal, e de maneira clara e conclusiva, que, se for feita uma tentativa de lhe transfundir sangue, ela lutará contra essa transfusão com todas as forças que puder reunir. Ela disse, e eu creio nela, que gritará e lutará, e que arrancará o mecanismo injetor de seu braço e tentará destruir o sangue no recipiente acima de sua cama. Recuso-me a dar uma ordem que faria essa criança passar por tal provação. . . No caso desta paciente, o tratamento proposto pelo hospital atende à doença apenas em sentido físico. Deixa de atender às necessidades emocionais e às crenças religiosas da jovem.”

Tal afirmação é emocionalmente tocante quando proferida por uma criança, mas uma menor de idade que cresceu sendo doutrinada sobre o sangue não está em posição de tomar uma decisão informada sobre um assunto tão complexo.

Ao discutir sua posição em um fórum mais público, a liderança das Testemunhas de Jeová admite que não deve se opor a salvar crianças com transfusões de sangue, em casos de vida e morte. A religião admitiu, para o parlamento australiano, que aceita a lei de tirar crianças dos pais Testemunhas de Jeová em tais situações (em inglês, tradução minha):

“Senador SCHACHT – Entendo. Só quero passar agora ao caso bem documentado do seu ponto de vista sobre as crianças e a queixa de que temos leis na Austrália em todos os estados que dão aos médicos o direito de invalidar a decisão dos pais.
Senhor Toole – Não estamos dizendo em nossa recomendação que a lei não deveria existir. O que dissemos é que pode haver circunstâncias que se tornem uma questão absoluta de vida e morte. Dissemos que, nessas circunstâncias, essa é a forma como a lei deveria ser enquadrada. Em sua forma atual, a lei não é enquadrada dessa maneira e permite uma invasão da família e uma revogação dos princípios daquela família em circunstâncias que realmente não exigem isso em absoluto” (COMMONWEALTH OF AUSTRALIA, Official Committee Hansard , COMISSÃO MISTA DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, DA DEFESA E DO COMÉRCIO, Referência: Esforços da Austrália para promover e proteger a liberdade de religião e crenças, 15 DE OUTUBRO DE 1999, aph.gov.au acessado em 27 de Maio de 2006, em inglês, tradução minha)

Da mesma forma, em 1999, um representante das Testemunhas de Jeová declarou: “Não se pede aos pais que concordem com o uso do sangue, mas eles são encorajados a reconhecer a situação na lei.” (Malyon, Tratamento sem Transfusão das Testemunhas de Jeová: respeitando os direitos dos pacientes autônomos, Journal of Medical Ethics, 1998; 24: 302-307)

Não é possível perguntar às crianças que foram sacrificadas por sua religião como se sentem em morrer como mártires. No entanto, é possível descobrir como as crianças que sobreviveram a uma transfusão de sangue se sentem, após receberem uma transfusão de sangue determinada pela justiça. É o caso de Carolyn Ivey, nascida prematuramente numa família de Testemunhas de Jeová em 31 de agosto de 1975, pesando apenas 1 Kg. Os médicos determinaram que uma transfusão de sangue era necessária para salvar sua vida e a de sua gêmea, e um jovem advogado trabalhou incansavelmente para garantir que as gêmeas recebessem o tratamento necessário. Julia não sobreviveu, mas Carolyn sim. A história abaixo continua três décadas depois desse episódio.

“O advogado de Pensacola, Joel Cohen, estava apenas olhando rapidamente seus e-mails quando uma frase saltou para ele:” Você salvou minha vida quando eu era um bebê. “… “Isso arrepiou meu pescoço”, disse ele.
O email era de Carolynn Ivey Evans, uma mulher de 36 anos de Ohio que poderia ter morrido quando era criança, se não fossem os esforços legais de Cohen.
Para Carolynn Ivey Evans – ela é casada agora, vivendo em Ohio – o e-mail para Cohen fazia parte de uma busca de identidade.
“Eu tenho 36 anos agora e sou mãe de quatro filhos”, ela escreveu em um e-mail para o Pensacola News Journal para esta história. “Durante anos, eu me perguntava o que tinha acontecido comigo e com minha irmã gêmea. Eu comecei minha pesquisa há seis meses via Internet e fiquei tão surpresa com quão grande a história realmente é … Então eu entrei em contato com o Sr. Cohen (para lhe agradecer) por salvar minha vida. Se não fosse pelo Sr. Cohen lutando por mim, eu não estaria aqui hoje! Eu até chorei por saber que ele fez tanto esforço”. content.usatoday.com acessado em 27 de Março de 2012.

É trágico pensar nas crianças que não tiveram essa chance, e foram sacrificadas pela fé errada de seus pais. Não queremos desconsiderar a situação terrivelmente traumática enfrentada por esses pais Testemunhas de Jeová. Com certeza, precisaram de muita força e sofreram bastante. Mas independentemente de quão sinceros eles eram, é difícil não fazer uma comparação com o sacrifício de crianças condenado na Bíblia.

(Jeremias 7:30,31) ‘Pois o povo de Judá fez o que é mau aos meus olhos’, … para queimar no fogo seus filhos e suas filhas, algo que eu não havia ordenado e que jamais havia ocorrido no meu coração.’

(Jeremias 19:4,5) … Encheram este lugar com o sangue dos inocentes. Eles construíram os altos sagrados de Baal para queimar no fogo seus filhos como ofertas a Baal, algo que eu não havia ordenado nem falado e que jamais havia ocorrido no meu coração.”’

Igualmente trágicas são as experiências dos pais que perdem não só os filhos, mas toda a família por causa da questão do sangue. A filha do pai Lawrence Hughes, chamada Bethany, morreu depois de recusar sangue. Durante esse tempo, ele percebeu que a postura das Testemunhas de Jeová sobre o sangue não é cristã, mas já era tarde demais para salvar sua filha. Agora sua esposa e as outras crianças não têm contato com ele, pois essa situação fez com que ele parasse de acreditar que as Testemunhas de Jeová são orientadas por Deus.

Temos também outra experiência, enviada por e-mail:

“Eu tenho uma tia próximo a Queensland. Ela era uma Testemunha de Jeová até que sua filha mais velha foi ferida em um acidente de viação. Ela morreu por perda excessiva de sangue. Eles não a transfundiram. Isso destruiu seu casamento, ela acabou deixando a organização e perdeu suas outras duas filhas, que não falam mais com ela.

Como pai, não consigo pensar em uma tragédia pessoal maior. É triste que a maioria das Testemunhas de Jeová não investigue corretamente esta questão até depois que seja tarde demais.

Não deve existir perda maior para um pai. Infelizmente, a maioria das Testemunhas de Jeová só vai pesquisar este assunto plenamente quando for tarde demais.

A visão da comunidade médica

Em geral, os médicos são incentivados a respeitar as vontades dos seus pacientes, e muitos respeitarão a posição das Testemunhas de Jeová. Médicos querem o melhor para seus pacientes e reconhecem que o sangue tem riscos, e evitam usá-lo, nos casos em que for possível.

“Alternativas à Transfusão de Sangue
Visto que as transfusões de sangue carregam riscos e que o fornecimento de sangue é limitado, os médicos evitam transfundi-lo quando possível. Em alguns casos, podem estar disponíveis alternativas às transfusões de sangue. Expansores de volume: quando um paciente perdeu muitos fluidos corporais, mas não necessita de glóbulos vermelhos ou outros componentes específicos do sangue, pode ser administrado um expansor de volume para prevenir ou tratar o choque causado pela perda de fluido. Os expansores de volume mais comuns são solução salina normal (água salgada) e solução de Ringer lactada (soro fisiológico com  produtos químicos adicionais). Outros expansores de volume incluem albumina, hidroxietilamido (HES), dextranos e frações purificadas de proteína (PPF).
”  cancer.org (acessado em 28 de Fevereiro de 2006)

No entanto, o sangue é, às vezes, considerado essencial para a sobrevivência e, embora as Testemunhas de Jeová possam questionar a ética da Fraternidade Médica3, elas não devem ignorar que um médico tem incentivo financeiro para agir de forma a dar aos pacientes a melhor chance de sobrevivência. Os médicos pagam por um chamado “seguro contra litígios” para protegê-los contra processos judiciais por parte dos pacientes. O preço crescente desses seguros faz com que os médicos administrem sangue porque eles acreditam que aumenta a possibilidade da pessoa sobreviver. Imaginar que os médicos deveriam sempre aceitar a vontade do paciente TJ é ingênuo. As publicações das Testemunhas de Jeová insinuam que os médicos deveriam agir assim, desconsiderando os riscos de processos judiciais em casos de morte ou seu juramento ético de salvar vidas (como demonstrado em “Testemunhas de Jeová, Transfusões de Sangue, e o Dano da Informação Falsa” [“Jehovah’s Witnesses, Blood Transfusions, and the Tort of Misrepresentation”], em inglês) de Kerry Louderback-Wood)

Não há alternativas aos glóbulos vermelhos; esta é ainda a única maneira conhecida para o corpo levar oxigênio com sucesso. À medida que a pesquisa médica progrede, transfusões de sangue integral tornam-se menos necessárias para a sobrevivência, mas ainda existem situações em que uma transfusão de sangue é a única opção.

O site rsc.org (acessado em 6 de Junho de 2010, em inglês, tradução minha) afirmou que “os substitutos do sangue humano estão em preparação desde a década de 1980. Mas, por razões científicas e políticas, não hé nenhum disponível no mercado Europeu ou Americano. … O estudo, conduzido por Charles Natanson, um cientista sênior do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, revelou um aumento de três vezes no risco de ataques cardíacos em pacientes que receberam os substitutos, em comparação com o grupo de controle que recebeu sangue doado.Clique para baixar um PDF em inglês do artigo completo. Se as transfusões de sangue completo fossem simplesmente desnecessárias, não haveria tanto esforço para tentar encontrar um substituto.

O Departamento Canadense de Anestesia faz algumas observações importantes em um módulo de treinamento intitulado “Transfusões de Sangue e os Pacientes Testemunhas de Jeová” (em inglês, tradução minha):

É possível que as conseqüências de se recusar transfusões de sangue não tenham sido tão perigosas quanto muitos clínicos imaginaram. A experiência em lidar com pacientes Testemunhas de Jeová tem desafiado o conhecimento anterior convencional sobre a terapia de transfusões“. – anesthesia.utoronto.ca (11/Jan/2005)

No entanto, o artigo mostra claramente que a postura das Testemunhas de Jeová pode, às vezes, resultar em morte, em alto custo financeiro, e é ilógica. Ele afirma que recusar transfusões de sangue “pode resultar em um dilema desafiador para os médicos, porque uma intervenção médica rotineira, segura, e com potencial de salvar a vida, é inaceitável para o paciente”. (anesthesia.utoronto.ca, em inglês, tradução minha)

Certo médico escreveu sobre uma paciente Testemunha de Jeová que fez um plano interessante para proteger sua vida, se precisasse de uma transfusão de sangue (em inglês, tradução minha):

– “Eu quero” – disse ela – “Eu quero que meu primo seja meu procurador.” O primo dela não era Testemunha de Jeová. Se ela ficasse inconsciente, ela queria que seu primo fizesse as escolhas. Ela foi muito clara: o primo não era seu procurador de saúde. Um procurador de saúde, que é um arranjo legal mais formal, nomearia um representante que tomaria as mesmas decisões que a própria paciente tomaria se ela estivesse capaz de tomar. Não neste caso – ela nomeou o primo dela para tomar as decisões que ele quisesse tomar no momento que ela ficasse incapaz de falar, e não as próprias [decisões] dela. Ela deu a impressão, para a equipe médica, que ela estava claramente escolhendo alguém que não era Testemunha de Jeová, alguém que não faria uma escolha de Testemunhas de Jeová. Alguém que nos permitiria salvar a vida dela. ” (slate.com acessado em 27 Jun 2013, em inglês, tradução minha)

Embora isso tenha satisfeito a consciência da paciente, se os anciãos descobrissem o plano, eles provavelmente levariam isso muito a sério.

Muitos médicos entendem que as regras das Testemunhas de Jeová sobre procedimentos relacionados ao sangue são inconsistentes (em inglês, tradução minha):
Muitos médicos são surpreendidos pela complexidade envolvida em distinguir entre tratamentos aceitáveis e inaceitáveis para pacientes Testemunhas de Jeová. Muramoto observa: [Muramoto O., Recent developments in medical care of Jehovah’s Witnesses, West J Med, 1999] Para médicos que tratam Testemunhas de Jeová, um dos aspectos mais intrigantes é que eles estão, de fato, aceitando muitos tratamentos baseados no sangue apesar de sua crença na abstinência absoluta de sangue. Uma vez que esta lei bíblica é tida como absoluta, não está claro por que a Associação Tore de Vigia não ensina seus membros a simplesmente recusar todo uso médico de sangue.

Tratar um paciente com cirurgia sem sangue também pode levar a custos de tratamento muito maiores:

É importante lembrar que tais resultados clínicos dramáticos podem, às vezes, atingir um custo financeiro muito alto. Considere, por exemplo, o caso de uma Testemunha de Jeová de 67 anos que sobreviveu à cirurgia de emergência por um aneurisma de aorta abdominal com vazamento, apesar de ter uma concentração de hemoglobina no pós-operatório de apenas 30 g/L. [31] Durante suas 14 semanas de internação hospitalar, ele recebeu nutrição parenteral total, ferro intravenoso, ácido folínico e epoetina alfa subcutânea para auxiliar na produção de hemoglobina. Esse gasto excessivo de recursos para evitar uma transfusão de sangue levou um médico que trabalhava na África a fazer as seguintes observações: “Tal internação deve ter custado facilmente uma soma de seis dígitos. Aqui, em Uganda, por 250.000, podemos tratar 25.000 pacientes ambulatoriais e 7.000 pacientes internados, realizar mais de 1000 partos e realizar 1.500 operações. Nós administramos um programa de saúde comunitária para 500 000 pessoas. Os custos deste único paciente poderiam bancar a nossa unidade por um ano inteiro. Será que veremos chegar o momento em que os grupos religiosos serão cobrados pelos custos para manter seus membros vivos?”anesthesia.utoronto.ca (em inglês, tradução minha)

Além disso, o manual de treinamento comenta sobre a postura das Testemunhas de Jeová de aceitar componentes sanguíneos, embora não estejam dispostos a doar sangue. O artigo termina afirmando que, uma vez que as Testemunhas de Jeová abandonou sua proibição de vacinas e transplantes de órgãos, pode-se esperar que a posição contra transfusões de sangue também será revertida no futuro.

Conclusão

A brochura Como Pode o Sangue Salvar sua Vida? diz, na página 7:

*** hb p. 7 ***
De modo que o leitor tem, para consigo mesmo, o dever de apurar os fatos, a fim de fazer uma decisão conscientizada a respeito do sangue.

A maioria das Testemunhas de Jeová só sabe um lado dessa história, sabendo muito pouco sobre os princípios discutidos neste artigo. A informação que religião fornece é enganosa. Fazem muitos exageros, tais como a seguinte afirmação:

*** hb p. 19 ***
Ninguém que examine objetivamente os fatos poderá negar que as transfusões de sangue envolvem grande risco.

Não há “grande risco” nas transfusões de sangue. Em geral, os médicos vão sugerir transfusão porque o risco de fazê-la é menor que o risco e não fazê-la.

“Eu tive que fazer a dura escolha entre morrer ou tomar sangue, no outono passado, e eu escolhi tomar sangue. Não era algo sobre o qual o comitê de ligação com hospitais (COLIH) poderia ter oferecido uma solução viável. Foram necessárias 16 transfusões de emergência para me salvar. Aparentemente, quando eu falei Com os anciãos, era questão de saber se eu era fraco ou iníquo, e visto que eu fiz mais de uma [transfusão], foi considerado iniquidade. Não faço ideia se eles anunciaram no Salão do Reino que eu ‘não era mais uma Testemunha de Jeová’… [mas] nem meu querido e amado amigo mais íntimo nunca mais falou comigo. Isso partiu meu coração.”

A Bíblia dá grande ênfase ao respeito pela vida. Em Mateus 12:11, Jesus mostrou que era mais importante salvar a vida de um animal do que seguir a Lei Mosaica. Quão mais importante é salvar a vida de um ser humano do que seguir a lei sobre transfusões de sangue (lei esta que a organização das Testemunhas de Jeová só criou em 1945).

Os eruditos cristãos entendem que a Lei Mosaica foi abolida com a morte de Jesus e que Atos 15 era apenas para aplicar a congregações com uma mistura de judaizantes e gentios. Charles Taze Russell e todas as Testemunhas de Jeová inicialmente reconheceram isso por quase metade da história da religião. Atualmente, as Testemunhas de Jeová usam mal o texto de Atos 15 para afirmar que os cristãos modernos não devem receber sangue e, então, voltam erroneamente à Lei Mosaica para formular os detalhes estritos sobre a doutrina do sangue.

Devido à variedade de opiniões que as Testemunhas de Jeová tiveram ao longo dos anos em relação ao sangue, vacinas, transplantes e outros procedimentos médicos, você tem o direito de se perguntar:

“Será que Jeová realmente orienta as Testemunhas de Jeová na emissão de diretrizes médicas?”

Será que o Espírito Santo de Deus tem orientado as Testemunhas de Jeová a chegar nesta atual posição controversa sobre transfusões de sangue? Um exame da história dessa doutrina mostra que não é o caso. Se o Espírito Santo de Deus fosse de fato a força por trás da compreensão da correta aplicação desta questão, então não haveria mudanças contínuas e inconsistências.

É preciso se perguntar por que Deus esperou 60 anos para revelar uma doutrina tão fundamental, um diferenciador usado para separar as Testemunhas de Jeová do resto das religiões. O período de tempo gasto para introduzir esta doutrina mostra que isso não tinha nada a ver com o Espírito Santo. A atual posição sobre o sangue (que permite muitas frações) agora contradiz tanto a posição de 1961, quanto a suposta razão existente para se abster do sangue.

Uma grande injustiça foi feita aos membros da religião, e é lamentável que as Testemunhas de Jeová estejam dispostas a morrer por esta doutrina sem conhecer sua história. A maioria das Testemunhas de Jeová, mesmo os anciãos dos Comitês de Ligação com Hospitais (COLIH), não sabem que o sangue poderia ser originalmente comido pelo povo de Deus. Muitos nem mesmo sabem do número de mudanças na doutrina, ou que 100% do sangue pode agora ser usado em formas fracionadas. Ainda menos Testemunhas conhece os argumentos bíblicos das outras religiões cristãs, que acreditam que a lei sobre o sangue não se aplica aos nossos dias.

A liderança da religião tem removido de si a responsabilidade legal, por meio de recentes mudanças que transformam muitas decisões relacionadas ao sangue em responsabilidade das consciências dos seguidores. Quando se discute com Testemunhas de Jeová ativas sobre a falta de lógica desta postura atual sobre o sangue, elas não se sensibilizam, e até parecem ficar mais felizes por estarem separadas do “mundo” nesta questão.

É provável que, com o tempo, uma alternativa sem-sangue será desenvolvida, com a capacidade de substituir as capacidades de transporte de oxigênio do sangue. Ou então, as autoridades poderão vir a forçar as Testemunhas de Jeová a retornar à sua posição original e, uma vez mais, permitir que as transfusões de sangue sejam aceitáveis. Em ambos os casos, as transfusões de sangue tornar-se-ão uma mancha distante na história das Testemunhas de Jeová. Enquanto isso, as Testemunhas de Jeová continuarão morrendo, aceitando a atual doutrina do sangue como se fosse a vontade de Deus, e gastando milhões de dólares em dispendiosas alternativas sem sangue, e lutando contra as autoridades médicas nos tribunais.

A doutrina do sangue não seria um problema se fosse aplicada apenas a comer sangue. Entretanto, estendê-la às transfusões de sangue, sob o risco de morte, tem legitimamente gerado grande crítica. Vidas foram perdidas depois que essas regras sobre o sangue, vacinas e transplantes de órgãos foram criadas. As regras sobre vacinas e transplantes mudaram, mas só depois de já terem ceifado vidas. Outros permanecem hoje desassociados por terem aceitado, no passado, transfundir os componentes do sangue que, só agora, são considerados aceitáveis. O efeito causado pelo corte de relações com ex-membros é dramático nas vidas das pessoas. As mortes dos membros obedientes constituem o sacrifício final que alguém faz por uma Organização. Sobre essas mortes, as Testemunhas de Jeová têm culpa de sangue nas suas mãos. É irônico pensar que a lei de Deus sobre o sangue servia para mostrar respeito pela vida, enquanto que essa religião de doutrinas mutantes causa tantas mortes desnecessárias.

Notas de rodapé

[1] A Sentinela de 1 de Julho de 1968 p.391 (em inglês, tradução minha) Sua religião é A Verdadeira? “Será que ela permite comer sangue? … Os textos aqui citados mostram que a religião verdadeira não ensina nem pratica nenhuma dessas coisas.”

[2] Seria esclarecedor saber quantos pais de crianças que morreram por não fazerem transfusão continuam sendo Testemunhas de Jeová. Muitos concluem que a religião não ensina a verdade. É difícil pensar em alguma tragédia maior.

[3] Despertai! g90 22/10 p. 7 – “Vender sangue é um grande negócio – Bem, o que deixa muitas pessoas apreensivas quanto a uma grande empresa em geral? É a ganância. A ganância se mostra, por exemplo, quando uma grande empresa persuade as pessoas a comprar coisas das quais elas realmente não necessitam; ou, o que é ainda pior, quando continua a impingir ao público alguns produtos reconhecidos como perigosos, ou quando se recusa a gastar dinheiro para tornar seus produtos mais seguros. Se o comércio de sangue está manchado com tal espécie de ganância, a vida de milhões de pessoas em todo o mundo corre grande perigo. Será que a ganância corrompeu o comércio de sangue?